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BABACA DA SEMANA – Eduardo Alves

QUEM É

Político brasileiro, Henrique Eduardo Alves é deputado federal pelo PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) pelo Rio Grande do Norte e atual líder do partido na Câmara dos Deputados.

Formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, disputou sua primeira eleição como deputado federal em 1970. Concorreu à prefeitura de Natal duas vezes, mas perdeu. Tem NOVE mandatos consecutivos como deputado. É líder do partido na câmara desde 2007.

Já não bastasse isso, é ainda um dos proprietários do Sistema Cabugi de Comunicação, conglomerado que possui, entre outros, a TV Cabugi (filiada á Rede Globo) e a Rádio Globo de Natal. Ainda é presidente do jornal diário Tribuna do Norte.

PORQUE É UM BABACA

Existe um órgão chamado Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contras às Secas), que em tese serve para combater a seca e é vinculado ao Ministério da Integração Nacional. Mas  desde de 1982 esse órgão não faz nada de útil (como a seca no sul do país prova este ano) e acaba sendo mais um espólio para partidos da base aliada do governo colocarem seus indicados em troca de verbas e ajuda em votações importantes.

Quem chefiava este órgão era Elias Fernandes, apadrinhando político de nosso querido Eduardo Alves. Acontece que a Controladoria-Geral da União apontou desvios de verbas de obras sob responsabilidade desde órgão no valor de R$ 192 mil e mais R$ 119,7 mil de prejuízo com pagamento de pessoal. Já não bastasse isso, perceberam que alguns convênios firmados com prefeituras beneficiaram (e muito) somente as regiões onde Eduardo Alves tinha base eleitoral.

Diante de tudo isso, a presidente Dilma se viu na obrigação moral e cívica de exonerar Elias. Eis então que nosso notório personagem da semana, indignado com uma possível demissão de seu afilhado político e perda de poder, solta a seguinte bravata:

“O governo vai querer brigar com metade da República? Com o maior partido do Brasil? Que tem o vice-presidente da República, 80 deputados, 20 senadores. Vai brigar por causa disso?”. Ele ainda deu a entender que, se a exoneração ocorresse, o PMDB poderia deixar a base aliada.

Como assim, senhor Eduardo Alves? Seu indicado no órgão é um corrupto incompetente e ao invés de você mesmo mandar o cara embora, ameaça quem faz o que é certo? Quem disse que o PMDB é “metade da República”? Quem você pensa que é para falar em nosso nome assim, com quem quer que seja? Todo o seu partido vai realmente jogar a aliança com o governo federal para o alto em nome de um corrupto? Menos, meu caro, menos. Acho que o poderzinho que seu partido te deu subiu a cabeça.

Tanto que no dia seguinte às ameças, Elias foi exonerado. Inclusive foi mandado embora mais rápido ainda em função das sandices expostas acima. E o excelentíssimo Eduardo Alves não brigou e nem cumpriu nenhuma das ameaças.

POR TUDO ISSO, EDUARDO ALVES, VOCÊ É UM BABACA.

E como parece que ele vai indicar o próximo nome a assumir o Dnocs, eis os contatos do deputado para que você também diga que ele não está autorizado a falar em nome de metade da República, ou pra chamar o cara de babaca também.

Site oficial

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Página do deputado no site da Câmara dos Deputados



Conhece algum babaca que deveria estar aqui? Mande suas sugestões nos comentários ou pelo e-mail leosias@gmail.com e quem sabe o babaca indicado não seja nossa estrela na semana que vem!

Introdução ao SOPA: um guia para a proposta da nova legislação antipirataria dos Estados Unidos

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Publicado originalmente na Wired UK

SOPA é uma daquelas abreviações que apareceram nos noticiários com uma velocidade alarmante. Para aqueles que ainda não entenderam ou tiveram tempo para sentar e ler as notícias relacionadas ao assunto, a Wired UK criou um guia útil para essa nova lei “antipirataria” proposta pela legislação estadunidense.

O que é o SOPA?

SOPA é a abreviação para Stop Online Piracy Act, uma lei proposta pela legislação americana com o intento de proteger copyrights na internet. Ela vem sendo amplamente suportada por estúdios de cinema e gravadoras que têm gasto milhões de dólares em lobby para endurecer as leis contra filesharing e violação de copyright online. Os alvos dessa nova lei são misteriosamente chamados de “sites infratores”.

A Câmara de Comércio dos Estados Unidos explicou através de uma carta para o NY Times o significado da expressão: “Sites infratores são aqueles que roubam os produtos criativos e inovadores da América, que atraem mais de 53 bilhões de visita por ano e ameaçam mais de 19 milhões de empregos americanos”.

O problema com o SOPA (e sua lei irmã, a “PIPA”) é que ele tenta lidar com o problema da violação de copyright forçando uma reforma na própria arquitetura da web. Ambas as leis definem que nenhum recurso disponível online ficaria fora dessa jurisdição de natureza draconiana. A lei chegou ao equivalente da Câmara dos Deputados norte-americano, mesmo com forte opinião contrária de empreendedores, internautas, desenvolvedores e acadêmicos.

Como ela funcionaria?

Caso autorizado, o SOPA permitiria qualquer procuradoria estadunidense a obter um mandato judicial contra sites estrangeiros e seu servidor de hospedagem de tal forma que o site em questão desapareceria para usuários norte-americanos. Essas audições devem ser feitas em dentro de cinco dias, baseando meramente em acusações.

Um site pode ser desligado apenas por infringir um link, mesmo que você não tenha postado, por exemplo, algum comentarista no seu blog postar uma foto protegida por copyright de forma inapropriada. Além disso, usuários e donos apenas podem se defender legalmente após o site ser retirado do ar.

Existe inclusive uma medida provisória que diz que um usuário comum da internet pode ser preso por cinco anos por postar material protegido por copyright.

Sites acusados de violar copyrights são bloqueados através do seu domínio ao invés do endereço de IP. Isto é particularmente preocupante, pois intervém com o DNS (Domain Name Service), que é uma peça fundamental da internet.

O DNS codifica o domínio do site, permitindo que qualquer computador conectado a internet encontre o site em questão. Bloquear sites por este meio faz com que eles desaparecem por complexo da internet, sem vestígios para o usuário leigo, este tipo de prática é comum em países onde a liberdade de expressão é combatida, como o Irã e a China.

Qual a diferença entre o SOPA e o PIPA?

SOPA e PIPA (Protect IP Act) são praticamente duas versões da mesma lei antipirataria. SOPA é a versão da câmara de deputados, enquanto a PIPA é a lei proposta pelo Senado norte-americano, ambas tentam eliminar a pirataria promovida por “sites infratores” estrangeiros. SOPA é mais abrangente, pois requer que mecanismos de buscas removam de seus indexes sites ditos como “infratores”.

A diferença vital entre o SOPA e PIPA é que o primeiro possui penalidades para sites acusados de forma errônea por detentores de copyright alegando que os mesmos podem ser processados por custos jurídicos e honorários de promotores.

O SOPA visa apenas sites norte-americanos?

Apoiadores do SOPA insistem em dizer que a lei almeja apenas sites não-americanos, o que define qualquer TLD (Top Level Domain) de um site que não tenha registro norte-americano (.com, .org e .net) – o que não afeta empresas americanas.

Entretanto, embora o texto não esteja particularmente claro, aparentemente sites americanos serão obrigados a se policiar em busca de links que levem aos considerados “sites infratores” ou links que possam direcionar para o mesmo, o não cumprimento deste policiamento pode acarretar em severas penalidades monetárias.

Quem será afetado pelo SOPA?

Os internautas americanos terão o número de sites limitados pelo governo e a indústria de entretenimento audiovisual. Também serão afetados empreendimentos baseados em web que busquem compartilhamento e interação social, assim como gigantes da web, como Google, Wikipedia (que entrou em protesto hoje, dia 18/01) e Amazon.

Esta é uma das grandes contradições do SOPA, ela reconhece – e defende – que a indústria de entretenimento americana é responsável pelo faturamento de milhões na economia do país, mas faz vista grossa para as empresas e indústrias de tecnologia que são o futuro econômico dos Estados Unidos e do mundo.

Em dezembro, um proeminente grupo de 83 engenheiros, programadores e inventores enviaram uma carta aberta para o congresso norte-americano, onde dizia:

Caso assinado, ambas as leis criarão um ambiente de medo e incerteza para a inovação tecnológica, além de prejudicar seriamente a credibilidade dos Estados Unidos em seu papel chave para a infraestrutura da Internet. Apesar das emendas recentes, ambas as leis correm o risco de fragmentar o DNS global e outros caprichos técnicos. Em troca disto, esta legislação acarretaria em infratores que agiriam de forma deliberada enquanto prejudicaria o direito de grupos inocentes se comunicarem e expressarem online”

Laurence Tribe, Professor de Direito em Havard, vai além, argumentando que o SOPA é anticonstitucional, porque, caso assinado, “um site inteiro, contendo centenas de dezenas de páginas, poderia ser desligado porque apenas uma página apresentaria problemas de copyright, este tipo de abordagem criaria severos problemas práticos para sites com ênfase em conteúdo desenvolvido pelo usuário.”

Quem apoia o SOPA?

SOPA é apoiado por organizações e empresas em que o modelo de negócios é fortemente ligado ao copyright, incluindo Motion Picture Association of America, Recording Industry Association of America, Macmillan US, tEntertainment Software Association, Viacom and News International. Outros apoiadores incluem empresas dependentes de seu trademark, como Nike e L’Oreal.

Quem se opõe ao SOPA?

A maioria das pessoas e empresas com um entendimento claro de como a internet funciona se manifestaram contra, incluindo Google, Facebook, Twitter, Zynga, eBay, Yahoo, Mozilla e LinkedIn. Eles argumentaram que o SOPA é “um sério risco para a inovação contínua e criação de empregos, assim como para a ciber-segurança dos Estados Unidos.” Outros opositores incluem Reddit, Boing Boing, Mozilla, Wikipedia, grupos internacionais ligados aos Direitos Humanos, centenas de negócios, empreendedores e acadêmicos.

O Parlamento Europeu, defensor da neutralidade na internet, se manifestou contrário ao SOPA, advertindo a “necessidade de proteger a integridade global da internet e a liberdade de comunicação impedindo medidas unilaterais que visem revogar endereços de IP e domínios na web”.

O que vem a seguir?

Hoje, diversos sites – grandes e pequenos – cessaram suas atividades em protesto contra o SOPA, a escolha da data, 18/01, não é sem razão, hoje, políticos americanos começaram a realizar uma análise de impacto envolvendo o bloqueio de nomes de domínios nos mecanismos de busca.

Em resposta ao apelo da comunidade digital, o representante do Comitê de Supervisão Doméstica e Reforma Governamental, Darrell Issa, proclamou a imprensa: “A voz da comunidade conectada foi ouvida. Mais educação sobre o funcionamento da internet é essencial para os membros do congresso é necessário para que legislações antipirataria sejam funcionais e atingiam aprovação ampla”. 

OcupaUSP: uma vitória pírrica para a sociedade paulistana

Esse final de semana eu abro a Revista Veja e me deparo com a matéria sobre a ocupação na USP, a revista – um dos maiores meios de comunicação do país – adota uma postura sequer imparcial, sem informação ou texto jornalístico, a matéria, em resumo, é uma demonstração de nojo à última onda de protestos que vem impactando a rotina do campus e ganhando espaço na imprensa.

O carro chefe da matéria “A Rebelião dos Mimados”, escrita por Marcelo Sperandio, era uma foto que ganharia uma notoriedade na internet, gerando inúmeras piadas pelo seu aspecto inusitado e debochado: um aluno – que em tese, faz parte dos manifestantes – se encontra sentado na cadeira, o que chama a atenção é o vestuário do rapaz, um macacão da GAP – uma marca importada de roupas casuais – e um óculos, supostamente, ray-ban.

E sem muitas delongas, o jornalista percorreu a matéria, desenvolvendo lições de morais, críticas à postura dos manifestantes, alegando que os alunos são apenas crianças mimadas, que protestam pelo direito de fumar maconha sem serem perturbados pela polícia militar, esse garoto se tornou o “retrato” da pequena ocupação que se desenvolveu no campus.

Os protestos tiveram como pontapé inicial a prisão de três alunos por porte e consumo de maconha dentro das imediações do campus no dia 27/10, quando diversos estudantes, em “demonstração de solidariedade” resolveram impedir que a PM prendesse seus colegas universitários.

Isto foi o estopim para reaver um antigo trauma da comunidade em relação a presença policial no campus, entre inúmeros argumentos, alega-se que a presença dos mesmos é uma ferramenta para coibir manifestações e até mesmo a liberdade de expressão.

De forma coincidente, dia 31/10, um rapaz chamado Thiago De Carvalho Cunha, um dos militantes do Acampa Sampa, a manifestação paulistana para o movimento global Occupy Wall Street, invadiu e interrompeu uma matéria do Jornal Hoje da Rede Globo de Televisão, em entrevista, o mesmo declarou: “Sou muito politizado, tenho 23 anos e, no momento, sou sustentado pela minha mãe”.

No dia 7/11, um dia antes do ultimato promulgado pela Justiça para que os manifestantes desocupassem o prédio da reitoria, o cinegrafista da Rede Bandeirantes, Gelson Domingos, foi baleado durante a gravação de uma invasão do BOPE a uma favela carioca, este triste incidente reacendeu um antigo debate brasileiro: “quem financia o tráfico de drogas?” Claro que o bode expiatório caiu nos ombros da juventude universitária da classe média brasileira.

E para finalizar o cenário, fica no ar a influência da onda de “marchas” que começaram após forte intervenção policial sobre a passeata a favor da legalização da maconha que ocorreu na Av. Paulista, o movimento ganhou projeção nacional, usando o direito da liberdade de expressão em sua vanguarda, fica a expectativa de o quanto do progresso alcançado pelas marchas será danificado após o término da ocupação.

Tenho acompanhado o desenvolvimento do argumento que pessoas “ricas” são isentas do direito de manifestar-se, ou seja, rico não pode protestar, uma vez que possui acesso a tudo, educação, saúde e entretenimento, não existem espaço para queixas ou o direito de reivindicar direitos, isto não passa de um sintoma de miopia social, um argumento da mesma lógica utilizado pelo jornalista Marcelo Sperandio.

A própria Veja, conhecida pelo público por ser uma periódico de centro-esquerda, em que seu editorial já defendeu mais de uma vez os fardos da classe média ao longo da administração petista encontrou uma pequena contradição ao condenar as manifestações universitárias, declarando que a mesma é encabeçada por “filhinhos de papai maconheiros”.

A instituição conta – no momento – com 89 mil alunos, ao contrário do estereótipo que foi fomentado por veículos como a Revista Veja, o clima na USP é despolitizado, onde muitos alunos ministram seu tempo intercalando matérias, estágios e cursos de idiomas oferecidos dentro do campus.

Outro argumento comum para dissimular a legitimidade os protestos se encontra no volume de alunos manifestantes em comparação ao resto da população do campus, considerando os mesmos como uma minoria e por isso, isenta de voz, uma constatação que vai contra os princípios democráticos.

O sociólogo Carlos Henrique Metidieri Menegozzo, em entrevista a revista Carta Capital, afirma que a mentalidade radical na USP passa por dois processos que se encontram em polos opostos e conflituosos.

Os da esquerda, na definição sociológica, são em parte resultantes de uma ideologia do descondicionamento de classe, “surgida quando o estudante é desobrigado de criar condições para seu próprio sustento”. Nesse caso, o estudante universitário, em sua maior parte de classe média e relativamente dependente dos pais, tem a impressão de que pode tudo. De acordo com Menegozzo ““O aluno imagina que pode assumir um comportamento político desligado de condições materiais e de interesses de sua classe origem”.

Já a direita, nas palavras do sociólogo, é reflexo da expressão de um movimento da classe média de maneira geral e que influencia o comportamento estudantil, quando segmentos da sociedade ascenderam após as políticas sociais estabelecidas no governo Lula, a antiga classe média vivenciou uma perda de status e poder, e o crescimento de uma mentalidade mais conservadora e agressiva é resultado direto dessa sensação de perda, o que é visto opiniões que envolvem políticas de cotas, por exemplo.

Por último, existe o confronto estatístico, alegando os resultados após a presença da PM e seu impacto na rotina dos alunos, um levantamento feito pela Polícia Militar 80 dias após o assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva ocorrido em maio, os furtos de veículos caíram em 90% (apenas dois casos foram registrados, ante os 20 anteriores). Já roubos em geral passaram de 18 para 6, uma redução de 66,7%. Roubos de veículos caíram 92,3%, passando de 13 para 1.

Outros dois crimes que tiveram redução foram lesão corporal, que caiu de nove para dois casos (queda de 77,8%), e sequestro relâmpago, de 8 para 1 (redução de 87,5%). Os dados estão em boletins de ocorrência registrados nas delegacias do entorno da Cidade Universitária.

Dos 103 boletins de furtos registrados depois da morte ante os 107 do período anterior, apenas 20 ocorreram em via pública, sendo 19 no interior de veículos, dos quais em 12 o objeto visado foi o estepe do carro. O outro furto foi de uma placa de veículo.

Os outros 83 casos aconteceram no interior das unidades, onde a PM não entra. Nesses locais, a competência de garantir a segurança é das empresas privadas de vigilância, contratadas pelas próprias unidades, ou da Guarda Universitária da USP, que tem como função proteger o patrimônio da instituição.

O argumento das alas mais radicais dos grupos universitários é que a presença da Polícia Militar tem servido para inibir os atos democráticos de manifestações, que, diga-se de passagem, são comuns dentro de meios acadêmicos.

A presença política nas manifestações – parte do intricado mosaico geopolítico da universidade – é apenas outro ponto, se embora a manifestação dos alunos possa ser consideração legítima, a ocupação da reitoria dia 01/11 foi encabeçada por grupos políticos como o PCO, a presença de bandeiras como a do PSTU e do PSOL podem ser encontrados entre os ocupantes, algo que nós podemos considerar como ato político e questionável.

A reação contra a presença policial no campus tem repercutido um criticismo sério por parte da população, que veem nas reinvindicações dos universitários nada menos que um “luxo”, alegando que não precisam de um direito do cidadão – o de proteção – enquanto diversas outras comunidades do município de São Paulo carecem do mesmo direito.

Em infeliz declaração a imprensa, Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo declarou sobre a situação : “Ninguém está acima da lei”, o profº Jorge Luiz Souto Maior, livre docente da Faculdade de Direito da USP foi pertinente em argumentar: “Ninguém está acima da lei”, traduz um preceito republicano, pelo qual, historicamente, se fixou a conquista de que o poder pertence ao povo e que, portanto, o governante não detém o poder por si, mas em nome do povo, exercendo-o nos limites por leis, democraticamente, estatuídas. O “Ninguém está acima da lei” é uma conquista do povo em face dos governos autoritários. O “ninguém” da expressão, por conseguinte, é o governante, jamais o povo.”

Muito foi dito sobre políticas de controle e higienismo no estado de São Paulo por parte da administração do PSDB, sabe-se que 25 das 32 subprefeituras do município possuem no comando reservas ligados a Policia Militar, também existem cerca de 90 oficiais em cargos considerados estratégica para a máquina pública paulistana, entre eles podemos citar a Secretaria de Transportes, Companhia de Engenharia de Tráfego, Serviço Funerário, no Serviço Ambulatorial Municipal, na Defesa Civil e Secretaria de Segurança.

Dia 08/11, por volta das 5:20 da manhã, um grupo de 400 policiais do batalhão de choque invadiram a reitoria com o objetivo de retirar os 150 alunos ocupantes do prédio, embora a assessoria da Polícia Militar alegue que a retira foi pacífica (embora, relatos de uso de gás lacrimgênico e abuso de força cheguem aos poucos, como nesse vídeo aqui), cerca 70 manifestantes foram presos, com múltiplas acusações, que vão de crime ambiental a formação de quadrilha, também foram encotrados, armas brancas e molotovs nas imediações ocupados, muitos detidos só conseguiram responder aos processos após o pagamento de fiança ou seja, os atos de manifestação foram considerados criminosos de acordo com a administração do município.

Todo o cenário poderia ter sido um de vitória, de manifestações pacíficas e reivindicatórias, sem a presença de joguetes políticos ou depreciação do patrimônio público, ao mesmo tempo em que as autoridades o papel que lhes cabe a sua jurisdição.

Ambos os lados tem ganhado notoriedade por seus atos exaltados e violentos, mas aqui eu questiono o que – nós – como povo conquistamos após esse episódio? Após a ação policial, parte da opinião pública aclamou pela intervenção brutal promovida pelo Batalhão de Choque, enquanto parcelas da comunidade universitária encontrarão no ato de agressão uma justificativa para seus argumentos radicais, tudo o que nós, o povo, conseguimos foi uma vitória pírrica.

Legalização do aborto, uma questão social

Em 2010 o candidato à presidência pelo PSDB, José Serra, direcionou sua campanha para a vasta maioria católica do país, em especial ao condenar e moralizar no debate da corrida eleitoral tópicos como a legalização do aborto, principalmente levando em consideração a tendência mais aberta de seu rival, Dilma Rousseff, do PT, ao assunto.

José Serra, que direcionou parte do seu discurso eleitoral para missas e cultos, protagonizado por pastores evangélicos, como Silas Malafaia, que até hoje ataca abertamente o público homossexual em outdoors espalhados pelo estado do Rio de Janeiro e padres como Dom José Cardoso Sobrinho, Arcebispo do estado de Recife.

Para quem não se lembra, em 2009 – um ano antes da corrida eleitoral – José Sobrinho encabeçou mais um episódio que chocou o Brasil. Uma menina de nove anos de idade engravidou de gêmeos após ser estuprada pelo padrasto, de vinte e três anos de idade, por decisão médica, a menina teve sua gravidez interrompida.

Após o episódio, que resultou na prisão do padrasto, o Arcebispo, de forma deliberada, excomungou todos os envolvidos no aborto: juízes, assistentes sociais, os médicos e até mesmo a menina violentada, seu atacante, o padrasto, não recebeu esta punição.

Em comentário a imprensa, o mesmo disse:  “Eu me arrependeria se não tivesse feito isso. Seria um pecado de omissão” mesmo foi sancionado pela justiça federal, a menina em questão vivenciava uma gravidez de risco altíssimo, porem, ainda assim, não impediu a ação do Arcebispo.

Acontece que, mesmo em caráter de exceção, não vivemos um país laico, possuímos a maior população católica do planeta, população que figuras públicas como José Serra, José Sobrinho e Silas Malafaia direcionam o discurso.

Gostaria de deixar claro que não estou generalizando católicos e outros grupos de fé cristã, e sim, reconheço a presença de pessoas esclarecidas e sensatas entre estes públicos, o problema não se encontra no debate moral e religioso, mas sim em nível cívico, político e educacional.

O aborto, em sua condição criminalizada, tem um significado implícito, pois coloca a mulher em situação marginal, sendo que ela é o ente passível de gravidez, porém ressarcida do direito de abortar, esta é a ótica fundamental, o aborto é uma consequência de uma política social defasada, criminalizar a consequência é não assumir a negligência que vem sido exercida na saúde pública, levantamos a questão: quem controla o corpo da mulher? O estado? a religião? ou ela mesma?

Dizem que o aborto é assassino, desrespeito a vida ou imoral, mas ainda mais criminoso é o estado marginalizar sua população feminina, principalmente das camadas econômicas mais inferiores de nossa sociedade como potenciais homicidas, mesmo com essa transferência de culpa, muitas ainda recorrem a métodos abortivos, até mesmo caseiros.

Exista quem defenda que o aborto desnecessário perante a enorme variedade de métodos contraceptivos existentes no mercado, como profissional de comunicação, eu considero esse argumento algo contestável, disponibilidade não significa acesso, acesso não significa necessariamente comunicação, e comunicação não é sinônimo de instrução.

Indiferente de ser na rede pública ou privada, ainda é difícil – justamente pela natureza religiosa e machista de nossa cultura – ministrar aulas de educação sexual em nosso sistema de ensino, dependendo de estado, instituição e grupo demográfico, ideias como camisinha e pílula anticoncepcional são consideradas tabus.

Que existe informação de sobra não há uma parcela de dúvidas, mas é preciso alocar esforços, articular ler, tornar a conscientização sobre o sexo seguro de forma ainda mais didática, como falar que existe informação em demasiado em um país onde os índices de analfabetismo funcional extrapolam ano após ano?

Os mais alarmistas costumam mencionar “será um massacre” caso o aborto seja legalizado, existe uma má interpretação – capciosa, assim julgo – em volta do termo “legalizar”, não é o mesmo que “permitir”, em tese, o aborto já acontece, e pasmem, o massacre já ocorre, e há quem lucre com isso.

Embora ilegal, nada impede – até mesmo o policiamento – de centenas de clínicas clandestinas se proliferarem em grandes centros urbanos como o município de São Paulo, cobrando até R$5.000,00 por um procedimento que implica em uma série de riscos para a saúde da mulher. Em mais um episódio, pessoas de poder aquisitivo que se consideram acima da lei, podem – e estão dispostas – a pagar por um procedimento que para tantos outros, de condição econômica e social visivelmente inferior, lhes é negado.

Uma das consequências pela busca de clínicas clandestinas é a enorme quantidade de infecções, hemorragias e – infelizmente – óbitos que implicam em custos adicionais ao orçamento da saúde pública e no bolso do contribuinte.

Acontece que legalizar seria uma maneira de impedir o massacre.

Consultando o pai dos burros, podemos definir que “legalizar” é “Tornar legal; dar força de lei a (um ato, ou disposição). Revestir das formalidades exigidas por lei. Autenticar.” Legalizar, sob os olhos de quem escreve esse post, é admitir que o estado e a população possuem maturidade para discutir uma pauta.

Legalizar vai além de tornar uma prática permissa, mas sim estipular E revisar quais leis, condições e eventos determinada prática são aplicáveis, foi comprovado em que países onde o aborto foi legalizado, os índices da prática declinaram ao longo do ano, justamente por causa de campanhas envolvendo conscientização de práticas anticoncepcionais.

Vivemos em um país onde 10% da população infantil é indesejada, crimes contra a criança, são decorrentes ou consequência da situação legal do aborto – prostituição infantil sendo uma delas – é preciso tomar iniciativa para reverter este quadro, e uma nova geração de cidadãos – e principalmente, mulheres – parece estar motivada para discutir e reverter nossa arcaica política.

Para finalizar, vale a pena uma reflexão, onde muito se discute o casamento e a formação de famílias encabeçadas por homossexuais, a adoção de crianças abandonados por casais do mesmo sexo não seria uma alternativa saudável e mutuamente beneficente para todas as partes envolvidas?

Pessoas diferenciadas, pelo preconceito

Só em sua capital São Paulo tem 19 Milhões de habitantes, destes, de acordo com os últimos informes do sistema metroviário, nove milhões circulam diariamente na malha de linhas de trem e metrô da cidade, isso se a gente não levar em consideração as cidades vizinhas que também usam o transporte público metropolitano, como Osasco e Guarulhos, ainda assim, embora motivo de orgulho para alguns conterrâneos, o sistema de transporte público paulistano tem presenciado uma falência esquematizada de sua capacidade, em grande parte por culpa do governo, que subestimou a expansão urbana da cidade e por outro lado, as intricadas tramas de licitações, processos e parcerias públicas-privadas, além de interesses sindicalistas, um grande exemplo é a Linha Amarela do metrô, que se encontra em atraso já faz anos, com apenas duas estações funcionando com operacional limitado.

Ainda assim, a falta de planejamento se abate no cotidiano paulistano, estações vazias contracenam com outras que sofrem de superlotações na hora do rush, a disputa entre as sub-prefeituras acarreta no privilégio de qual bairro ser mais apropriado para receber ou não uma estação de trem/metro, e ainda assim, encontramos algumas contradições, como grandes centros de negócios, como o bairro da Vila Olímpia serem completamente desprovidos de acesso ao transporte público, enquanto a Linha Verde, tem pelo menos três estações abrangendo a Av. Paulista, algo que eu julgo ser desnecessário.

Causou um certo reboliço as declarações oriundas de um baixo assinado contendo as assinaturas de 3.500 moradores da região do Higienópolis (0,016% da população do município), alegando que a instalação de uma estação do metrô traria a presença de “pessoas diferenciadas” ao bairro, afetando o estilo de vida dos cidadãos da região, o que também me faz questionar a força política do baixíssimo número de assinaturas, se levarmos em consideração outros baixo assinados que a população paulistana já protagonizou e que por ventura, foram pertinentemente ignorados pelo poder público, o bairro é famoso por abrigar boa parte dos grandes empresários e políticos Tucanos (como FHC) da cidade.

Claro, da própria história do bairro, etimologicamente, “Higienópolis” literalmente significa “Cidade da Higiene”, onde na época todos os lotes tinham sistemas de esgoto e água encanada, começou a ser povoado por volta de 1890 pelos “Barões do Café”, por ironia históricoa, um dos grandes atrativos do bairro era a presença de um bonde. Políticas higienistas têm sido algo comum na capital paulistana, como já discutido aqui no próprio blog, a administração dos políticos de direita tem trazido conseqüências desastrosas para a metrópole que até então, era famosa por sua vida noturna, intelectual e natureza cosmopolitana.

Fica aberta a questão do “espaço público”, onde sim, os moradores têm o direito de revogar ao poder cívico pelo bem estar da região onde moram, desde que exista plausibilidade em seus argumentos, e que, “diferenciadas” ou não, todo cidadão tem o direito de transitar por um espaço que é acessível para todos – ou devia, já que não vai rolar metrô – não estamos falando de condomínios fechados ou clubes privados, e sim de rua, simples assim.

Como disse o Rapper Emicida no Twitter: “Cerca essa porra dessa higienópolis e tranca essa tucanada lá dentro, depois tomba como patrimônio ambiental, o maior tucanário do mundo”

E então transparece na polêmica o preconceito de classe, onde muito se discute melhorias na eficácia do transporte público, persistem o abarrotamento humano e as constantes “falhas técnicas” em estações como a Paraíso, Barra Funda e Sé, fica subentendida no ar uma coisa, população do Higienópolis – ricos – não precisam de metrô, transporte público é coisa de pobre, e o governo, acatando isso com o rabo entre as pernas, consentiu com a mensagem.

A Língua Portuguesa como ferramenta de controle: elitismo, vergonha e soluções

Quando criança, eu tinha um certo nível de dislexia e deficit de atenção, nada muito drástico, mas era algo comum os professores instruírem meus pais a tratar este tópico, são coisas que inclusive acontecem até nos dias de hoje, troco uma letra, cometo pequenos erros de concordância, mas nada que algum dia veio a dificultar a compreensão de um texto, afinal, os leitores deste blog estão ai pra comprovar, não? Talvez por uma corrente de pensamento arcaico, a língua portuguesa é protegida por uma certa mentalidade reacionária, ainda hoje há quem discuta sobre a “invasão” de anglicanismos, neologismos e incontáveis “reformas” ortográficas e gramaticais. Nunca dei muita importância pra isso, não mesmo.

Considero a “língua” uma propriedade popular, algo que todos nós temos, por mimética, crianças aprendem não apenas o próprio idioma com seus pais, mas maneirismo, gírias e até sotaque, também existe aquela propriedade transmutável, nasci no Rio de Janeiro e moro já faz mais de uma década na capital de São Paulo, meu sotaque, por extensão, se tornou algo singular, isso é válido para cada um de nós.

Trabalho com publicidade e sou formado na área, atualmente prossigo para uma Pós-Graduação em Marketing Digital, em diversas reuniões (ou brainstorms, se você preferir…) era comum se deparar com a necessidade de criar uma flexão ou perversão com uma determinada palavra.

Vai além daquelas aulinhas de português e redação publicitária com as funções de linguagem, claro, vamos levar em consideração conceitos como linguagem fática, metalingüística e etc., mas é preciso ir além, conceber uma palavra é um exercício criativo, é necessário conhecer o universo da campanha, seu público, o imagético relacionado. Às vezes o que seria normativamente considerado como “erro”, nada mais é que o charme da campanha, isso é um exemplo generalista, é claro.

Quando algo me desagrada na Internet, ou apenas sinto a necessidade de transmitir um desaforo, eu costumo errar na digitação de forma proposital, é um trato da sociedade brasileira, ainda mais na classe média, considerar como forma de erudição o engessamento do elitismo gramatical, seja qual for à paulada, com o erro, ela ganha proporções ainda mais ofensivas.

É um daqueles discursos sobre a dicotomia forma/conteúdo (ou até mesmo de significante e significado para a semiótica e a lingüística) que pode ser aplicado em nossas inteirações sociais, até onde a ojeriza por um erro ortográfico deve significar a censura da mensagem e do intento comunicativo?

Um cara que manja do assunto é o Profº Marcos Bagno, onde o mesmo argumenta que “erros de português” não existem, o que existe é preconceito social disfarçado de preconceito lingüístico (e eu ainda adiciono, é uma questão auto-afirmativa), e que “o domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”, a gramática passa a se tornar um instrumento de controle. Claro, em situações como essa, não existem “controladores”, pois se segue o padrão de dominação, os próprios são vítimas do sistema de controle, acabam sendo inseridos como agentes na lógica de censura e vergonha.

Não é uma idéia nova, nem distante, a “novilíngua” (newspeak) criada por Orwell é o argumento perfeito para esta situação, além da propaganda e do policiamento, controlar as formas de comunicação de seu povo é o outro passo para a total e completa censura, não apenas controlar a palavra, mas as articulações semânticas e construções de frases, o intuito da novalíngua é este, coerção através da comunicação, achar um ponto de átomo, onde cada vez mais se diminui a extensão e sentido da palavra e sua capacidade de flexão, pense no Aleph da cabala, só que em um sentido negativo, pervertido.

O Kenneth, do Blog Pós-Agoristas, uma vez propôs a construção de um Makrolexicon, com intento de incentivar mentes a construírem novas palavras, novas formas de expressão e concepção, e assim, impulsionar uma ferramenta de imunização contra esta forma de controle, eu tenho uma segunda via, até mais prática e cotidiana, eu digo ao leitor, que já se encontra enfastiado com este tipo de situação: erre propositalmente. Estou falando de um erro mínimo, uma ingênua e singela troca de letra, erre para não só compreender o erro, mas também se emancipar da culpa e dos olhares de reprovação de seus conterrâneos e educadores.

Geração Y e o fantasma do controle informacional

Bom, todo mundo que lê este blog sabe, ou a essa altura do campeonato, já deveria estar sabendo que eu sou um usuário compulsivo do Twitter, aquilo que no jargão fica “Twittero”, tenho o costume quase religioso de mandar uma acalorada mensagem de bom dia e terminar a noite c/ alguma coisa, geralmente um link do Youtube, uma música. O legal do Twitter, é que pra evitar jargões técnicos, é que o negócio é grande pra cacete, você encontra tudo e todos, escritores, atores, desenhistas, perfis corporativos, e é claro, gente comum.

Esses dias eu estava na aula de marketing da minha Pós Graduação, quando o professor comentava enfaticamente o quanto o discurso perante a Geração Y era hiper-estimado, de fato, ele tinha razão, rebeldia e contestação sempre existiram, o que muda são as mecânicas e tecnologias pela as quais elas se manifestam.

É claro que isto é uma faca de dois gumes, da mesma forma que uma geração de muçulmanos se articulou ao ponto de derrubar governos, outra grande parcela se apropria para enunciar coisas, digamos, menos prioritárias, mas e daí? É tudo uma questão de opção, certo?

Viemos de uma época de conhecimento “elitizado”, basta perceber como nosso sistema educacional persiste em seus aparelhos de suporte a vida, se por um lado a tecnocrática classe média insiste em rotular acadêmicos como “pseudo-intelectuais”, o outro lado ainda persiste em batizar aquilo que causa desagrado como “cultura inútil”.

Em um mundo pulverizado por informação, incompreensão e vista grossas acabam sendo verdadeiros colírios cerebrais, é fácil – e até necessário – virar o rosto e assumir que alguma informação é irrelevante para o seu cotidiano, isto difere da ignorância, é uma solução apenas temporária, quantas vezes você não optou e deixar a leitura de algum link para depois?  Pois é.

Existe uma crítica muito forte alegando que a Geração Y é uma geração supérflua, débil, “que sabe de tudo mas não conhece nada”…mas em contra partida, é a primeira geração a lidar de forma ativa e aberta c/ informação, sem censura ou erudição, nossos (sim, “nossos” porque eu me encaixo na faixa etária) antecessores foram marcados por censuras, polaridades políticas e obscurantismos.

Parafraseando a Lucia Hipólito (pra quem estava falando mal da classe média…), “na ditadura todos nós éramos iguais porque não avisa diferença de opiniões.”  E isto é válido não apenas para a ditadura brasileira, mas a todos os regimes políticos do planeta.

Esta “supervalorização” da informação é oriunda da necessidade de controle que a geração anterior estimava, hoje em dia existe a mão pesada da responsabilidade, “O que fazer com tanta informação?” eles assombram, bom, eu tenho a resposta: “porra nenhuma! informação não deve ser controlada ou ministrada, isto é uma retórica antiquada, pertencente a quem cresceu naqueles tempos, o que nós devemos e conviver com informação, só isso, deixe estar.

 

The Boys: um mundo de heróis sem escrúpulos

Não é nenhuma novidade, você pega o jornal ou assiste um noticiário na TV e se depara com notícias sobre a última overdose da Amy Whinehouse ou sobre o próximo pornô transexual do Alexandre Frota que faz uma música do UDR parecer uma canção de ninar, ou até mesmo o festival de nonsense protagonizado por nossas autoridades, é policial usando spray de pimenta em criança, político coagindo a secretária a tirar a roupa, uma coisa pra mim ficou clara como o dia, tendo em mente esses exemplos – e muitos outros episódios – eu posso concluir que o ser humano é despreparado para lidar com fama e/ou autoridade, de fato, mais um dia decadente na selva de concreto ocidental.

Cresci lendo HQs da década de noventa, principalmente do gênero super-heróico do filão Marvel Comics, tratando de heroísmo “cabeça”, observamos aquilo que a gente podia falar de uma humanização dos heróis, Matthew Murdock, advogado cego e vigilante noturno, Peter Parker, universitário desempregado e herói, toda a questão étnica e adolescente entre os X-men, bom, não é a toa que eles dizem “Com grandes poderes vem grandes responsabilidades”.

Depois de adulto você passa a questionar isso, qual é o treinamento que esses heróis recebem? Como isto pode ser empregado em um ambiente público? Quais são os danos secundários? Quem aqui cresceu na mesma época que eu, deve-se lembrar da saga Massacre e a climática batalha no Central Park, envolvendo os Vingadores, o Quarteto Fantástico e os X-men contra um vilão titânico.

Naquele evento, e tantos outros, nunca ficou exatamente claro se um civil foi fulminado por um raio da morte perdido ou quantos foram pegos em uma explosão, ou se o Aranha entrando em um prédio em chamas ocasionou na morte desnecessária de alguém. E o pior, com tantos heróis alcançando status de celebridade, quanto tempo levaria para um deles surtar em público? E se um super-herói fosse Mel Gibson, Amy Whinehouse ou Charlie Sheen? A expressão “elefante na cristaleira” nunca fez tanto sentido, certo?

É a partir desta premissa que Garth Ennis e Darick Robertson criam o universo de The Boys, pela editora Dynamite Entertainment. Ennis, já conhecido pela sua aversão ao gênero super-heróico, mostra um mundo onde heróis descontrolados estão mais preocupados com publicidade e royalites, onde lobistas do conglomerado corporativo Vought American promovem ativamente o emprego de super-heróis no governo norte-americano. Uma verdadeira – e plausível- perversão do sonho fomentado pela Marvel e DC.

Os “garotos” do título são individuais recrutados pela CIA com o objetivo de investigar e manter em cheque a comunidade super-heróica, a equipe é formada por Mother’s Milk, um ex-soldado afro-americano, no qual a família se envolveu em uma briga judicial com a Vought American, The Frenchman, um suposto ex-militar francês, aparentemente insano que nutre uma imensa afeição pela The Female, uma ex-cobaia traumatizada, potencial psicopata, com aversão a qualquer um que a toque, Hughie “Mijão”, o novato, recrutado após ter a namorada morta em um incidente super-heróico, teórico da conspiração, tenta entender as motivações por trás de Billy Butcher, o líder da equipe, que nutre um ódio incondicional por super-heróis.

 

 

Boa parte da história é contada sobe a perspectiva de Hughie Mijão, como se o leitor também desbravasse a rede de intrigas do universo criado pelo Garth Ennis, o choque em descobrir que todo o heroísmo não passa de uma fachada, que as mortes, ressurreições e invasões alienígenas não passam de desculpas feitas pro assessores de imprensa para overdoses, acidentes ou orgias em paraísos tropicais.

Ennis se preocupa em balancear seu “argumento” com o background da história e dos protagonistas, claro, cenas que consagraram o roteirista na indústria de HQs são freqüentes e quase gratuitas! Não se surpreenda pela quantidade de sangue, tripas e outros fluidos e dejetos humanos que aparecem em cada edição. Cada arco de história geralmente costuma focar na reinterpretação de um grupo de heróis da Marvel ou da DC, transformando heróis em pessoas sádicas, irresponsáveis ou sem controle, Ennis toma o seu tempo com a trama, dedicando cada página para transmitir ao leitor seu ódio por super-heróis, criando situações ultrajantes, questionáveis, como uma verdadeira terapia de choque.

A série tem um comentário social forte ao cenário político americano, Ennis faz uma crítica ácida a falta de direitos trabalhistas para a população mais carente, a reação em relação ao episódio do 11/9 e toda a tramóia política que isto originou, os escândalos que envolveram a PMC Blackwater durante a administração do governo Bush.

O legal é ver que todos os planos dos The Boys são friamente calculados, meticulosos, quem espera por freqüentes cenas de pancadaria vai acabar um pouco frustrado, já que as mesmas não ocorrem sem antes toda uma investigação nos incontáveis podres e esqueletos no armário da comunidade super-heróica, mas quando acontecem, costumam ser sangrentas e viscerais, mérito do Darick Robertson, é claro.

Darick Robertson, conhecido por ter colaborado com sua arte no aclamado Transmetropolitan, de Warren Ellis, mostra uma arte bem dedicada, tentando equilibrar o aspecto “sem-noção” dos heróis com o resto do mundo “normal”, um fato curioso é que para alguns personagens, Darick foi buscar inspiração em Transmetropolitan, como as similaridades de The French com Spider Jerusalém e The Female c/ a  Yelena Rossini, outro fato envolvendo a criação dos personagens se encontra na proposital semelhança entre Hughie Mijão e o ator nerd idol Simon Pegg, famoso por filmes de comédia como Hot Fuzz e sua participação como Scotty no remake de Star Trek dirigido pelo J.J. Abrams

 

 

No Brasil, apenas o primeiro volume, intitulado “O nome do jogo”, foi lançado pela Devir Comics, se esta série te interessa, recomendo procurar alguns scans (e se tiver algum para recomendar, pode postar nos comentários! :])  ou comprar importado, indico para todos que procuram uma crítica séria a mentalidade super-heróica dos quadrinhos americanos ou para os leitores que há muito tempo estão carentes de algo no nível de Preacher.

Zona Norte, São Paulo: 48 horas no escuro

No último debate dos presidenciáveis, em meio às trocas de acusações que vão de censura dos meios até ao aborto, Marina Silva, do Partido Verde, mencionou a problemática das enchentes, não apenas a extensão do problema, mas a conseguinte omissão por parte dos órgãos responsáveis. O período das enchentes dura o quadrimestre de Dezembro até Março, logo ao término dele, as autoridades realizam o mínimo necessário para reparar os dados e assim, entre prejudicados e mortos, a vida prossegue.

Ou ao menos é assim que os noticiários tendem a abortar o assunto, em meia tanta exposição exercida pelos grandes grupos de imprensa do país, o real papel do profissional de comunicação obtém pouco êxito. Os “danos” vão desde calamidade sanitária, passando por debilitação do negócio agropecuário, destruição de propriedade, surtos de criminalidade, traumas psicológicos, perda de bens perecíveis, prejuízo financeiro, cooptação do bem estar civil e quantos outros nomes compostos eu puder imaginar.

O que eu não poderia imaginar é que eu vivenciaria isso, numa experiência assim tão próxima, onde por três dias, após uma chuva forte, eu fiquei incomunicável, sem água potável e, principalmente, sem energia elétrica, e isso em uma das regiões mais nobres da Zona Norte paulistana, a chuva que caiu no dia 21 afetou o bairro de tão forma que há quase uma década morando aqui, jamais vi uma situação parecida.

No início nós não estranhamos, seria apenas outra queda de energia, algo que eu posso dizer – com um certo pesar – que é comum em dias chuvosos, porém nossa inquietação começou ao entardecer, quando eu e minha família não conseguíamos informação, pela falta do que se fazer e até mesmo pelo tédio noturno, minha mãe tendou ligar para a AES Eletropaulo, a empresa privatizada responsável pela manutenção e abastecimento de energia em São Paulo, das 120 ligações que nós realizamos – sério! – apenas duas foram efetuadas, nos advertindo que a cidade encontrava problemas e que em dentro de uma hora a situação seria normalizada, passou-se mais de uma hora e nada, quando, por milagre, conseguimos ligar de novo, a mensagem gravada avisava um novo prazo e mais nada, sem muitas esperanças – e morrendo de calor! – aos poucos as pessoas aqui em casa foram pegando no sono.

Acordei um tanto ansioso, com esperanças que a situação pela manhã seria resolvida, porem isso foi ingênua suposição minha, na manhã do dia 22 veio o segundo dos problemas: é natural de se esperar que com a queda de energia, Internet e algumas linhas telefônicas fossem junto, porem minha avó, alarmada, percebeu que não estava entrando água, estava claro a partir daí que a vizinhança se encontrava em uma situação insalubre, naquele dia não só tentamos contatar a AES Eletropaulo, mas também a SABESP, responsável pelo fornecimento de água e saneamento aqui em São Paulo, desta vez sequer conseguíamos alguma informação, com tempo vago e o horário de almoço se aproximando, nós decidimos pegar o carro e procurar algum restaurante na vizinhança, o que eu vi porem, foi um triste cenário de negligencia e descaso por parte da prefeitura paulistana.

Para vocês, que não moram em SP, terem uma noção, a Zona Norte é uma das regiões mais arborizadas do município, um dos grandes dilemas encontrados pela população que reside aqui está em relação o que fazer com as inúmeras – e sim, maravilhosas – árvores que encontramos na calçada, por lei, estamos vetados de poder cortar elas, um pedido para a subprefeitura pode demorar até três meses ou mais para ser atendido, passeando de carro pelas ruas, eu pude ver árvores que levaram postes, pedaços das calçadas, carros, muros e em alguns casos, obstruíram ruas. O mais curioso é que não encontramos uma figura de autoridade civil na rua, nenhuma viatura de polícia (E eu moro perto da academia de cadetes do Barro Branco E do Hospital da PM), bombeiros ou carros pertencentes às empresas de luz e saneamento, a zona norte paulistana estava em cacos, sequer o carro para colete de lixo passou!

Eu penso que isso é foda, porque em dias comuns, perto de casa, existe uma viatura parada no cruzamento cujo único propósito é multar os carros que passam, onde estava ela nesses três dias? Não sei! Isso é válido também para os inúmeros funcionários do CET que exercem sua função na região.

Foi naquele dia também que uma das coisas mais tristes deste evento aconteceu, começamos a notar que a comida na geladeira estava estragando, jogamos fora e o pesar da situação era visível no rosto de minha mãe, começou a anoitecer e, por quase uma hora, a energia tinha retornado, o que seria a solução de nossos problemas  foi apenas por um momento, escutamos um estouro, as luzes piscaram e logo em seguida tudo se apagou, novamente, chateados, sem muita alternativa, nós fomos dormir. Uma de nossas preocupações naquele dia foi em relação a criminalidade, a Zona Norte é cercada por alguns morros que se localizam próximos a Serra da Cantareira, estávamos dois dias sem iluminação noturna e policiamento nas ruas, então sim, estávamos com medo de furtos, ainda mais por morarmos em uma região nobre.

Naquela noite, quando fomos jantar em um restaurante na Zona Sul, pude notar uma dos maiores descasos com a população, um figuração engravatado de cabelos grisalhos da AES São Paulo, falando na SPTV da Rede Globo sobre os problemas da chuva: que 1) o problema foi o aumento das chuvas, que isto não é culpa de sua empresa e/ou os órgãos envolvidos e que 2) Até determinado momento da entrevista, 98% dos casos estavam “normalizados”, o cu da mãe morta dele que estava, não minha casa, sequer minha vizinhança. Não é a primeira vez que eu escuto este tipo de argumento fatalista e omisso, Sérgio Cabral falou algo parecido durante o desastre de Petrópolis, e isso vem se tornando recorrente nos discursos dos Assessores de Imprensa que a culpa não é do mecanismo de estado e sim da natureza.

Isto não é apenas assumir através de um silogismo tacanho que a administração do poder público é incapaz de previnir/sanar a situação, mas também é um dedo do meio na cara da população, nada podia ser feito? As chuvas aumentaram, e na corrida “beligerante” da coisa, o que se foi feito para mitigar o impacto? Pois é, queria saber se na casa do Gilberto Kassab ou do José Serra faltou luz, Internet, comida e água, pois é, acho que não.

Então novamente amanheceu e pelo menos eu tive uma boa notícia, a água tinha voltado, o que foi um alívio, pois todos puderam se banhar e exercer a higiene pessoal com mais calma, em contrapartida, o lixo acumulado, combinado com o calor da época fez com que um cheiro desconfortável de xurume subisse no ar e também, na garagem, encontramos aquilo que eu e meu pai suspeitamos ser uma tentativa de arrombamento do portão, passeando pela vizinhança, vi o que causou o estouro da noite anterior: um cabo de alta tensão jogado no chão, marcas de fuligem na calçada e na parede do vizinho, conversando com ele, o mesmo me contou que há meses tenta notificar a prefeitura que um galho da árvore estava suspenso nos fios do poste, e que tinha receio daquilo acontecer.

Bom, finalmente, no final da tarde, a luz voltara, o que eu pude presenciar não foi apenas a lentidão incomum, mas também outro fato quer comprova o quanto a cidade está abandonada, e sua gestão, ineficiente, o que eu pude ver, só hoje pela manhã, foi o festival de burocracia e redundância: sem a polícia para interditar a rua, nada podia ser feito e AES São Paulo não poderia realizar os reparos, e sem a autorização do Corpo de Bombeiros, os galhos não poderiam ser removidos, e isso foi se estendendo por cada maldito poste da região, o maior prejudicado? Nós, pagantes de impostos e submetidos a lei e nosso papel cívico, e olha que essa foi SÓ a história da minha casa, imagine quantos casos parecidos ocorreram por toda a vizinhança?

Enquanto nosso prefeitinho de merda tiver mais preocupado em criar novo partido, se safar de denúncias relacionadas a cargos interiores, dobrar o próprio salário, mais interessado em mandar polícia bater em estudante, caçar homossexuais, cortar verba de merenda escolar chamar nego de vagabundo e “higienizar” a cidade, essas merdas vão acontecer, e eu não estou querendo ser alarmista ou apocalíptico não, é factual, em 2011 novas enchentes ocorrerão, e toda sorte de tragédia, drama, descaso e teabagging vão acontecer! 2012 é ano de eleição, e bom, eu vou lembrar cada minuto, cada probleminha, cada tapa na cara que eu levei nesses últimos quatro anos.

 

Papo Rápido: A falha experiência democrática no Brasil e as manifestações populares no Oriente Médio

A família toda estava reunida na mesa de jantar, comendo a famigerada pizza da sexta-feira, televisão ligada, o Jornal Nacional da Globo entra no ar, discutimos as notícia que passavam, cada um com sua opinião borderline ao senso comum, como esperado, uma hora o âncora do jornal anuncia as manifestações políticas no Oriente Médio, em meio ao “debate” (entre aspas mesmo), alguém fala com um certo tom de deboche “até que outro ditador vem e assume o poder”.

Como se a nossa experiência democrática, com menos de uma década, tenha progredido tanto de lá pra cá, vide PMDB e seus políticos jurássicos.

Isso foi no mesmo dia que a polícia paulistana novamente entrou em confronto com estudantes contrários ao aumento da passagem no transporte público (agora o metrô),  até agora ainda não claramente justificado a população do município de São Paulo.

E pra piorar, os rumores de que Gilberto Kassab entrará para o partido citado acima, querido por todos nós, ameaçam se concretizar.

Embora exista uma multidão de dedos políticos nesta onda de manifestações, realizar vistas grossas para a panela de pressão econômica e social que tem conflagrado o Oriente Médio é uma idiotice sem tamanho, é um início saudável começar a conscientizar que monarquias plutocráticas que enriqueceram sob o dinheiro do petróleo não são boas para a população ou melhores do que fundamentalistas islâmicos, que toda aquela suntuosidade apresentada a nós como mera “curiosidade ocidental” não atinge sequer uma ínfima parcela da população.

Isto não é novidade, desde a visita de Reza Palahvi a Berlim, há mais de 40 anos atrás, a jornalista Ulrike Meinhof (sim, aquele Meinhof…) tentou denunciar através de um artigo o abismo social existente na região e a vista grossa por parte da imprensa ocidental.

Não foi apenas política que inquietou as mentes da população no Egito e na Tunísia, foi a fome, foi a inacessibilidade, foi o alto custo de vida, a ausência de luxo, a necessidade de se reintegrar a uma malha social global.

Mais importante do que especular se um novo ditador assumirá ou não, é perceber que o status quo foi alterado, a população, que a muitos já não é aquilo que “intelectuais” da classe média jocosamente chamam de “massa” se articulou e vivenciou uma das primeiras grandes experiências sociais e políticas da década, maldita inclusão digital, não?

E para nós, Brasileiros, mais especificadamente, paulistanos, somos terrorizados pelo silogismo que nos faz confundir “autoridade” e “funcionário público”, se, na questão do transporte público, muitos temem confrontar um “cobrador de ônibus” – um cargo, que, sinceramente, sequer deveria existir – quiçá teremos convicção para questionar uma força policial retrograda, fundamentada na violência e repreensão ou nossos órgãos políticos, que em um nascimento aberrante, trouxe do seio de uma ditadura uma democracia acéfala.

(cujo até hoje o STJ discute a constitucionalidade de seu aborto…)