(OBS: SE VOCÊ É UM DESCENDENTE DE GERMÂNICO QUE QUER PRESERVAR A PORRA DA SUA CULTURA A TODO CUSTO E GOSTA DE SOCAR QUEM “DISTORCE” A MITOLOGIA DOS SEUS ANCESTRAIS, NÃO LEIA ESSA BOSTA – coloquei esse aviso porque durante 6 anos de webz, já tive muito conflito com neo-nazistas e descendentes de germânicos que não aceitam que alguém “impuro” toque a sua “cultura imponente”)
Como aqui no Brasil a grande maioria das nossas referências culturais – começando pela língua portuguesa – é proveniente do mundo Greco-Romano, fica parcialmente mais fácil entendermos a mitologia grega. De “Khaos”, veio a nossa grafia de Caos, e etc. No caso da mitologia que desejo discutir hoje, a escandinava, a coisa fica mais complicada. Palavras como “Ginnungagap”, “Ymir” e “Audhumla”, não querem nos dizer nada, mas os nomes em mitologias são sempre a base que sustenta toda a narrativa. Ele por si só já apresenta o personagem e sua função no cosmos. Eu mesmo, como não tenho tanta facilidade com línguas do tronco germânico não posso nem supor a etimologia dessas palavras, no entanto podemos analisar o contexto geral em que essas entidades aparecem e ponderarmos sobre sua função no universo mitológico!
A mitologia escandinava é muito confusa. Como não chegaram relatos em si, escrito pela própria civilização pré-cristã, o que temos são apanhados confusos que serviram como tentativa cristã de preservar uma tradição já quase perdida de diversas comunidades germânicas, em plena Idade Média.
Não nos é explicado exatamente como as coisas aconteceram, mas de alguma forma, existiam apenas dois territórios: o do fogo e o do gelo. Sem vida, sem nada. Apenas frio, calor, lava e neve. No meio dessas duas coisas existia o Ginnungagap, o vazio que precede tudo, algo como o CAOS grego primordial. Esse vazio é uma espécie de zona de confusão, é onde o fogo e o gelo se encontram; onde o frio se entrelaça com o calor; choque térmico; zona anárquica; confusão; nada. Desse incessante conflito entre o gelado e o quente, dessa roda cósmica de sensações térmicas sucedâneas girando entre a lava vulcânica e a neve primordial, surgiu a primeira coisa viva. O gigante chamado Ymir! A vida surgiu do Caos que ocorria na zona anárquica do Ginnungagap. Sem o silêncio, não existiria o som. Da mesma maneira, sem o nada, nada existiria. A não-existência precede a existência, assim como Ginnungagap precede Ymir.
Das partes superiores de Ymir surgiu o primeiro casal de forma humanóide, das inferiores nasceram os gigantes de gelo. Provavelmente brotada da mesma forma que Ymir, existia uma espécie de vaca chamada Audhumla, que alimentava o grande gigante primordial. Essa vaca lambendo o gelo do território frio, fez nascer outro tipo de humanóide, chamado Buri. Que teve um filho – provavelmente com a criatura feminina humanóide surgida das partes superiores de Ymir – chamado Bor e consequentemente teve três filhos: Odin, Vili e Vê.
Essas três criaturas juntas conseguiram através de um embate feroz, derrotar o gigante de gelo primordial Ymir. Do sangue derramado pela criatura primordial falecida, quase toda a raça dos gigantes de gelo se afogou, sobrevivendo apenas o gigante Bergelmir. O mundo tal como conhecemos, surgiu através da morte de Ymir! Seu sangue se transformou na água, sua carne na terra, seus ossos nas pedras e nas montanhas e da cabeça surgiu o céu (com 4 anões, um em cada canto, para mantê-lo fixo). Os anões nasceram como vermes através de uma geração espontânea na terra (que na verdade é a carne de Ymir), eram criaturas com uma proximidade tão grande com esse elemento que manipulavam de maneira magnífica qualquer mineral, se tornando desta maneira ótimos artesões! Já os seres humanos comuns, os habitantes de Midgard (nosso mundo humano), foram forjados em toras de madeira encontradas numa zona litorânea pelas três criaturas humanóides que derrotaram Ymir. Essas três entidades se auto-denominaram deuses.
Bem, daí a mitologia se desenvolve, explicando a criação dos 9 mundos habitados por criaturas diferentes: elfos, elfos escuros, gigantes de gelo, gigantes comuns, humanos, deuses, anões, trolls etc. etc. etc. Mas o que nos interessa no Fator Caos é mais a gênese das coisas. Nesse processo de criação de tudo fica evidente alguns traços que na verdade são cíclicos: do nada surge a vida primordial estabelecendo uma ordem (Ymir surgiu do Ginnungagap), que é superada por uma nova forma de vida (Ymir foi morto por Odin, Vili e Vê) e por último se estabelece uma nova ordem (os três deuses recriando o cosmos e dividindo em 9 mundos). É algo cíclico, assim como Zeus seria derrotado, segundo uma profecia, por Athena, na mitologia escandinava existe o Ragnarok.
O Ragnarok é o fim da velha ordem, a roda cósmica girando e dando espaço para uma nova forma de organização. É a instauração momentânea da anarquia, única coisa capaz de derrubar a velha ordem e recriar tudo. Os deuses são derrotados pelos seus inimigos principais, algo que estava escrito na sua orlog (algo como destino, melhor, tábua que as Nornas escrevem com aquilo que vai acontecer na vida das criaturas vivas desde que nascem, nem os deuses podem superá-la). Algumas coisas da velha ordem vão ficar… claro, mas uma novidade necessária vai emergir. Do CAOS surgirá a vida, como sempre acontece.
O deus Loki tem uma semelhança arquetípica imensa com Judas. Claro que o sentido é um tanto diferente, são até ramificações culturais diferentes entre hebraicos e gemânicos (ou é tudo indo-europeu? Sei lá, não lembro), Loki não tem nada de “diabólico”, exatamente como a igreja do período medieval gostava de pintar. Porém, Loki é o mal necessário, ou melhor, o mal não maniqueísta, do conflito (que é harmonia) entre o bem e o mal surge a vida! A mudança! Da contradição, do choque entre o ruim e o bom, dois lados, duas facções, mas não necessariamente oposições radicais! Uma harmonia de dissonância! Loki é o líder do exército de criaturas que vai enfrentar os deuses do panteão de Odin, ele vai convocar cada uma das criaturas que estão fadadas a derrotar os deuses. Ele é essencial para que o destino fixado além dos deuses se realize… algo como Judas, não? Acho Loki o mais dócil dos deuses escandinavo, mais próximo da zombataria do que da perversidade. Infantilidade e maldade. Pureza e malicia. Loki e Judas.
Nesse conflito caótico, as duas forças vão se anular, se destruir, emergindo um novo mundo das cinzas desse cosmos destruído. Caos é uma harmonia sensivelmente diferente, é uma ordem que está fora da razão, e que é mutável, por tanto, ordem desordenada. O Caos, meus amigos, está em TUDO. Basta apurar o olhar, que você encontra.
(PRÓXIMO EPISÓDIO: NÃO SEI AINDA QUE PORRA DE MITOLOGIA, ALGUMA COISA HINDU TALVEZ)