Só em sua capital São Paulo tem 19 Milhões de habitantes, destes, de acordo com os últimos informes do sistema metroviário, nove milhões circulam diariamente na malha de linhas de trem e metrô da cidade, isso se a gente não levar em consideração as cidades vizinhas que também usam o transporte público metropolitano, como Osasco e Guarulhos, ainda assim, embora motivo de orgulho para alguns conterrâneos, o sistema de transporte público paulistano tem presenciado uma falência esquematizada de sua capacidade, em grande parte por culpa do governo, que subestimou a expansão urbana da cidade e por outro lado, as intricadas tramas de licitações, processos e parcerias públicas-privadas, além de interesses sindicalistas, um grande exemplo é a Linha Amarela do metrô, que se encontra em atraso já faz anos, com apenas duas estações funcionando com operacional limitado.
Ainda assim, a falta de planejamento se abate no cotidiano paulistano, estações vazias contracenam com outras que sofrem de superlotações na hora do rush, a disputa entre as sub-prefeituras acarreta no privilégio de qual bairro ser mais apropriado para receber ou não uma estação de trem/metro, e ainda assim, encontramos algumas contradições, como grandes centros de negócios, como o bairro da Vila Olímpia serem completamente desprovidos de acesso ao transporte público, enquanto a Linha Verde, tem pelo menos três estações abrangendo a Av. Paulista, algo que eu julgo ser desnecessário.
Causou um certo reboliço as declarações oriundas de um baixo assinado contendo as assinaturas de 3.500 moradores da região do Higienópolis (0,016% da população do município), alegando que a instalação de uma estação do metrô traria a presença de “pessoas diferenciadas” ao bairro, afetando o estilo de vida dos cidadãos da região, o que também me faz questionar a força política do baixíssimo número de assinaturas, se levarmos em consideração outros baixo assinados que a população paulistana já protagonizou e que por ventura, foram pertinentemente ignorados pelo poder público, o bairro é famoso por abrigar boa parte dos grandes empresários e políticos Tucanos (como FHC) da cidade.
Claro, da própria história do bairro, etimologicamente, “Higienópolis” literalmente significa “Cidade da Higiene”, onde na época todos os lotes tinham sistemas de esgoto e água encanada, começou a ser povoado por volta de 1890 pelos “Barões do Café”, por ironia históricoa, um dos grandes atrativos do bairro era a presença de um bonde. Políticas higienistas têm sido algo comum na capital paulistana, como já discutido aqui no próprio blog, a administração dos políticos de direita tem trazido conseqüências desastrosas para a metrópole que até então, era famosa por sua vida noturna, intelectual e natureza cosmopolitana.
Fica aberta a questão do “espaço público”, onde sim, os moradores têm o direito de revogar ao poder cívico pelo bem estar da região onde moram, desde que exista plausibilidade em seus argumentos, e que, “diferenciadas” ou não, todo cidadão tem o direito de transitar por um espaço que é acessível para todos – ou devia, já que não vai rolar metrô – não estamos falando de condomínios fechados ou clubes privados, e sim de rua, simples assim.
Como disse o Rapper Emicida no Twitter: “Cerca essa porra dessa higienópolis e tranca essa tucanada lá dentro, depois tomba como patrimônio ambiental, o maior tucanário do mundo”
E então transparece na polêmica o preconceito de classe, onde muito se discute melhorias na eficácia do transporte público, persistem o abarrotamento humano e as constantes “falhas técnicas” em estações como a Paraíso, Barra Funda e Sé, fica subentendida no ar uma coisa, população do Higienópolis – ricos – não precisam de metrô, transporte público é coisa de pobre, e o governo, acatando isso com o rabo entre as pernas, consentiu com a mensagem.