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Adeus Steve Jobs

Que o Steve Jobs ia morrer, eu já sabia, aquela pancreatite estava acabando com a raça dele, porém falecimentos de personalidades tem aquela capacidade de colocar as coisas em perspectiva, diferente daqueles que foram embora, nós conseguimos analisar o legado deixado pra trás. Pra ser bem sincero, não ligo muito para episódios de falecimentos, mas o caso de Steve Jobs é diferente.

Meu contato com os produtos da Apple foi algo tardio, cheguei a ter um iPod Shuffle, mas na época considerei a interface do iTunes complicada e pesada demais e acabei voltando pro meu mp3 player xing-ling.

Só fui aderir realmente a um produto deles por insistência do meu pai, que já tinha uma experiência de anos com o seu iPhone 3GS e me sugeriu um no meu aniversário de vinte anos, mesmo assim, demorei um bocado para explorar todo o potencial do smartphone.

Gosto desse conceito “Smart” em nossa cultura 2.5 e para o desenvolvimento dela, social, tecnológico – e principalmente – mercadológico, Steve Jobs foi uma figura pivotal.

Como profissional de comunicação – e mais específico, marketing – posso dizer que o nome “Steve Jobs” era uma marca muito mais forte que a própria Apple, o emprego de seu nome era constantemente acompanhado de expectativas como inovação, usabilidade, surpresa e satisfação atendida.

Onde muitos CEOs preferiam se esconder através de assessores de imprensa e notas oficiais, Jobs foi além, na vanguarda da empresa, mesmo enfermiço, apresentava-se em público, gerando hype e especulação na indústria tecnológica, interagindo com jornalistas, blogueiros e outros formadores de opinião.

Seu flerte com o conceito mobile foi o grande breakthrough em nossa sociedade, convergindo noções e centralizando em um único aparelho, embora ainda inacessível para boa parte da população, os smartphones estão ai, imprevistos até mesmo na ficção-cientifica.

Olhando metade da década passada, não consigo imaginar nosso mundo sem esse conceito, sem o dinamismo promovido, Steve Jobs, embora um corporativista, deixou um legado para todos nós, a capacidade de comunicação e articulação.

Onde muitos viram nos produtos de Steve Jobs e sua equipe apenas outro artigo de luxo, ele viu algo além, viu potencial.

Facebook, Twitter, serviços que são integrados as plataformas móveis da Apple foram cruciais para episódios recentes de nossa história, como a Primavera Árabe e os manifestantes em Wall Street. Hoje, ao alcance de um toque, emitimos nossa opinião e a tendência é só crescer.

Em 1984, um ano antes de sua demissão como CEO, a Apple exibiu na televisão uma propaganda apoteótica, inspirado no livro 1984 de George Orwell, uma multidão se reunia perante o discurso inflamado do Grande Irmão, apenas para ser interrompido por uma figura atlética, que arremessa um martelo contra o telão.

Levando o clima político e cultural do início dessa década, temos ai um certo valor histórico, referencial. Ali, Apple e Jobs tinham dado sua sentença, e no futuro, smartphones iriam auxiliar smartmobs. Steve Jobs não morreu, mas transcendeu o ciberespaço e agora reside em nossos bolsos e nossos browsers.

JAMMIN’!

Dois extraterrestres dirigem sua nave pelo espaço sideral quando são surpreendidos por uma chuva de meteoros. O veículo é seriamente danificado e acaba caindo em um estranho planeta. Agora eles devem percorrer esta terra estranha e enfrentar seus inóspitos habitantes a fim de poder juntar as peças de sua espaçonave e assim poder retornar para casa…

O novo filme do Spielberg?

A nova série em quadrinhos da Vertigo?

O mais novo seriado da HBO?

Não! Este é o enredo básico de um dos melhores e mais insanos jogos de videogame de todos os tempos: Toejam & Earl! Estes são os nomes dos dois protagonistas, provenientes do planeta Funkotron e que graças às grandes habilidades de pilotagem de Earl, tiveram sua bela nave espacial Funkotronic danificada e agora terão que explorar um dos piores lugares do universo: o planeta Terra!

Funkotron?

Funkotronic?

Sim, meu caro, este dois ETs são típicos funkeiros dos anos 70 e suas roupas, gírias e jeito de andar não deixam mentir. Aliás, toda a trilha sonora do jogo tem como base este estilo musical, com suas batidas e scratchs.

Lançado em 1991 para Mega Drive/Genesis, este jogo marcou época pelo bom humor e jogabilidade diferenciada. Basicamente você deve percorrer o cenário em busca dos pedaços da nave e de elevadores. Sim, elevadores. Porque neste jogo o planeta Terra é dividido em 25 ilhotas que flutuam no espaço, uma em cima da outra e somente é possível ter acesso ao “andar de cima” através destes elevadores. E se você não tomar cuidado ao andar nas bordas destas ilhas, pode vir a cair de volta no andar de baixo!

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Cyberpunk e o Presente Volátil: divagações sobre literatura e tecnologia.

Nos meus tempos de gótico – pausa para os risos – eu pude presenciar um breve crescimento da estética “cyber”, que no final das contas, era um condensado de bandas, referencias de vestuário, chavões e até mesmo alguns flertes com a cultura nerd, como o emprego de 1337speak.

Era um tanto irritante o engajamento do povo, às voltas com um mar de referencias, mas mesmo assim, pouco apego ou conhecimento das mesmas, de suas origens, da mesma forma que o inevitável desinteresse, barreira lingüística e boca a boca diluem o conteúdo no underground, com o cybergoth – pausa para as risadas – não teria sido diferente.

Incomodava-me aquela imagética catastrófica, os sempre presentes símbolos de perigo radioativo e biológico, toda aquela ignorância aliada ao pretenso clima apocalíptico, “apocalíptico”, é claro, sob uma ótica de Umberto Eco, estamos falando do eminente, enfadonho pessimismo de caráter ludista.

Philip K. Dick? Não, ninguém tinha escutado falar, sequer imaginava que a desilusão, e paranóia da década de setenta já tinham alcançado os limiares da ficção-cientifica, Blade Runner? Aqueles que tinham visto, mal sabiam os bastidores literários por trás do filme.

"Do Androids Dream of Electric Sheep" livro que inspirou a adaptação cinematografia pelas mãos do diretor Ridley Scott

"Do Androids Dream of Electric Sheep" livro que inspirou a adaptação cinematografia pelas mãos do diretor Ridley Scott

 

Mais assustador ainda eram aqueles que desconheciam William Gibson, pai de todo o imaginário cyberpunk: megalópoles continentais, corporações corruptas, hegemonia do soft power asiático, drogas, cultura hacker, mesmos as inúmeros energúmenas posando em seus fotologs.net e álbuns de orkut, mal sabiam quem era Molly Millions ou Y.T. e a importância dessas personagens para o arquétipo da femme fatalle na cultura pop.

Existiram muitos outros expoentes, cada um com seus próprios méritos e falhas, que passaram despercebidos pelo mesmo público, ao longo das décadas de 90 e 00’s, Omykron: The Nomad Soul, Deus Ex Machina, The Matrix, Cyberpunk 2020, Serial Experiments Lain, Ghost in the Shell, AppleSeed, Idoru, Snowcrash, Chrysalis, Battle Angel Alita. Só pra citar alguns.

Da mesma forma que o súbito interesse do público passou, o gênero perdeu fôlego, e na medida em que se adotava a terminologia “post-cyberpunk” para ilustrar um mundo menos distópico e mais hedonista, onde já não se refletia mais o choque e a ruptura dos avanços, mas sim sua integração ao cotidiano, escritores, críticos e leitores percebiam: o futuro é agora, o próprio Gibson traduz isso em uma frase: “The future is already here – it’s just not very evenly distributed.”

A trilogia Bigend, escrita por Gibson, mudou o panorama do gênero Sci-Fi.

A trilogia Bigend, escrita por Gibson, mudou o panorama do gênero Sci-Fi.

 

Então hoje, na data cujo este texto é escrito, eu me deparo no twitter com esse artigo do Ethevaldo Siqueira, , O Mundo de 2010 a 2025 típica tecnobaboseira, Siqueira nos ilustra o óbvio ululante, um inevitável futuro através de previsíveis leis do mercado e indústria,  como miniaturalização, automátização e optimização.

Entenda, alegar a extinção de uma mídia é contradizer o panorama geral do mercado e indústria dos meios de comunicação, contradizendo também, os interesses de setores (indústrias de celulose, notícias, anunciantes e até público), eu me lembro dos ditames de Marshall McLuhan.

A grande peculiaridade das inovações tecnológicas, e seu potencial no mercado de comunicação, foram que a obsolescência é trocada por um re-arranjo organizacional das tecnologias, como um pequeno bioma, os profissionais desenvolvem sistemas de inteiração e espaço pela atenção dos meios.

Ao contrário do euforia dos pretensos futurólogos, os fatos rumam para um cenário contrário: o rádio não foi substituído pelo cinema, e este, não teve seu espaço tomado pelo invento da televisão e assim ad nauseum.

Formatos, meios de armazenamento, transmissão, estes sim mudaram, um exemplo tangível está na relação DVD/VHS, estamos falando em uma atualização e não substituição, o propósito de ambas as tecnologias ainda é o mesmo.

E mesmo o jornal impresso se atualizou, percebeu as leis do mercado de mídia e desenvolveu novos métodos de distribuição, diagramação (como os formatos do Destak e Metro News), melhorou a qualidade da impressão e continuou, principalmente, porque ler jornal é um traço cultural.

É claro que a ficção-cientifica foi pivotal nas decisões de design e funcionabilidade das novas tecnologias, as obras de Arthur C. Clarke influenciaram o desenvolvimento do satélite geoestacionário, mas é curioso notar a ausência de gadgets como smartphones no universo de Neuromancer.

Arthur C. Clarke

Arthur C. Clarke

 

E o quanto deste futuro chegou até nós? Zaibatsus não dominam o mercado, a URSS caiu, a expectativa do futuro cedeu para ao nosso volátil, caótico presente. Quantos acontecimentos nós deixamos passar? O excesso de informação pulverizada coopta qualquer iniciativa de estabelecer uma linha cronológica, até mesmo aquelas que rumam para o futuro…

O Futuro está ai, talvez menos esteta do que imaginamos, porem mais tangível, talvez tenhamos nos acostumado a ruptura, ao impacto estético, o futuro está ai, no contrabando da Santa Efigênia, em terroristas treinados em simuladores de vôo, nos operadores de telemarketing e proletários high-tech na China, nas quadrilhas de phising na África, naquele moleque escutando funk no celular, em qualquer idiota que tem um site e fala o que bem quiser…