Estou na Livraria Saraiva, procurando alguns hardcovers novos para ingressar na minha coleção, quando ao meu lado chega uma mãe com sua filha, ambas sem nenhuma peculiaridade, gente normal, a filha, entusiasmada, pega o livro Harry Potter e a Pedra Filosofal e pede – em tom de súplica – que a mãe compre o livro desta vez, achei esquisito, resolvi atentar aos fatos, porem, o mais surpreendente viria com a resposta da mãe: “Não filha, lembra que o Pastor disse que o livro é obra do demônio?” a filha fez uma cara de decepção, digna daquelas memes que aparecem em sites humorísticos, fechou o bico e acompanhou a mãe pelo resto de sua visita a livraria.
“Evangélicos” eu pensei, ou provavelmente algo parecido, cujo não faço questão de discernir, aquela cena me deixou um pouco chateado, não pela ignorância, mas pelo sentido da mãe negar a criança o acesso ao entretenimento construtivo, ao hábito da leitura, e principalmente, livre arbítrio. Claro, sempre vai existir aquela esnobada referente ao conteúdo do livro, mas antes destas vigorarem, vale lembrar-se do que estamos falando, de uma criança, querendo ler um maldito livro.
Eu gosto de ironizar toda essa situação: se o Deus cristão é tão forte e onipresente, porque o subseqüente medo de satã? Às vezes, eu fico abismado com a grande estima que evangélicos e outros cultos dão a tal figura, como se o principal foco de crença fosse ele e sua capacidade de tentação.
Uma vez, aquele LINDO, o Anton LaVey, disse: “Satã tem sido o melhor amigo que a igreja já teve, pois ele cuidou de seus negócios todos esses anos!” e na cultura pop, satã tem sempre sua presença marcada, graças a deus.
O medo dos religiosos em terem de disputar a atenção de seus pupilos com coisas mais interessantes como Naruto, Ben 10 e Harry Potter, vem da falha em compreender o quanto a oratória religiosa no púlpito, as roupas formais e a música gospel são coisas frágeis, enfadonhas e completamente tautológicas para uma mente juvenil, faminta por estímulos.
Condenar a “magia” no livro é também condenar a riqueza de universos narrativos, o glamour de seus fãs e o esforço de escritores, editores e toda indústria por trás do negócio, é condenar, antes de qualquer coisa, a chance que uma criança teve de enriquecer intelectualmente.
Parabéns Evangélicos, vocês, de fato, provaram que o argumento de vocês está correto, aproximando mais uma alma para a danação no inferno da ignorância.