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Escrevendo certo por linhas tortas

Muita gente me acusou de preconceituoso ao ler meu texto “Orgulho Evangélico” postado neste humilde blog.  E afirmo de boca cheia que vocês estão muito enganados, meus amados detratores. Meu caso de amor e ódio com evangélicos é baseado no mais puro e simples pós-conceito em cima do estereótipo que mais aparece de vocês socialmente: o pregador chato alienado.

Caso vocês realmente acompanhem esse blog como o dizem que fazer ao afirmar categoricamente que sou o pior autor entre os que escrevem aqui, poderão notar que alguns falam mais de certos assuntos do que outros. E aqui achei um espaço legal para falar de um dos meus assuntos prediletos: religiosidade.

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Orgulho Evangélico?

Estava eu no ônibus voltando de um treinamento sacal para ministrar um curso sobre Mercado de Trabalho quando ouço um moleque de cerca de seis anos cantarolando no banco ao meu lado (e ao lado da mãe) a seguinte canção evangélica:

“O homenzinho torto
Morava numa casa torta
Andava no caminho torto
Sua vida era torta

O homenzinho torto
A Bíblia encontrou
E tudo o que era torto
Jesus concertou”

Sendo eu míope, corcunda, com os dentes separados e com pé alto, achei essa insinuação de que minha formação física era resultado a falta de Jesus na minha vida extremamente de mau gosto. “Mas isso é metafórico!” – bradarão alguns. Eis então que a bela criança segue com a música:

“O homenzinho preto
Morava numa casa preta
Andava no caminho preto
Sua vida era preta

O homenzinho preto
A Bíblia encontrou
E tudo o que era preto
Jesus concertou”

Gostaria de argumentos razoáveis para defender esta merda, amigos evangélicos.

Seu deus é um lixo!

Eu devia ter uns 16 anos. Naquela época era comum eu e mais uns amigos nerds nos reunirmos para ir aos sebos do centro garimpar livros de RPG e ocultismo, comprar algum CD de metal importado na Galeria do Rock e depois passar na Liberdade para olhar aquelas mil coisas legais japonesas e não comprar nada. Era um tempo em que a Fonomag e a Animangá era points e você ter um mangá original em japonês fazia de você um cara fodão, mesmo que não soubesse ler um mísero caractere de qualquer alfabeto japonês.

(Pausa para os chatos de plantão: sim, eu sei que a Animangá não fica na Liberdade.)

Em uma dessas ocasiões já havíamos feito nosso garimpo e estávamos atravessando a Praça da Sé em direção ao Bairro Proibido quando fomos abordados por um evangélico. Normalmente eles se limitam a entregar algum panfleto, nos abençoar e sair andando. Mas este em particular viu um bando de adolescentes cabeludos e deve ter achado que era a missão divina dele nos salvar dos braços de Satã, pois começou a falar aquela ladainha que todo mundo já deve ter ouvido uma vez na vida. Após alguns minutos resolvo ser educado com ele:

– Entendo seu ponto de vista e tudo, mas já tenho religião. Frequento a Igreja Católica, participo de alguns grupos de lá…

Eis que nosso pretenso salvador me interrompe com a seguinte argumentação:

– Pois saiba que meu Deus é melhor que o seu!

Não sei se foi a raiva de ter ouvido uma merda dessas, se foi a pressa de ir embora ou se foi algum tipo de Epifania instantânea, mas me virei para ele de maneira um tanto quanto efusiva e disse:

– Seu Deus? SEU DEUS? Vem cá, seu Deus sabe dar combo aéreo?

O pregador pareceu ter entrado em pânico. Era óbvio que ele não sabia o que era um combo aéreo e não poderia dizer que “sim” com o risco de dizer que o Senhor fazia algo impróprio. Ele parece diminuir e responde de maneira vacilante:

– Não…

Não contente em ver um evangélico dizendo que seu Deus onipotente, onisciente e onipresente não poderia fazer algo, eu ainda solto:

– Então seu deus é um lixo!

E rindo efusivamente, continuamos nosso caminho discutindo como seria Jesus Cristo em um fight game dando 12 hit combo, um para cada apóstolo.

Crônicas: O Inferno da ignorância.

Estou na Livraria Saraiva, procurando alguns hardcovers novos para ingressar na minha coleção, quando ao meu lado chega uma mãe com sua filha, ambas sem nenhuma peculiaridade, gente normal, a filha, entusiasmada, pega o livro Harry Potter e a Pedra Filosofal e pede – em tom de súplica – que a mãe compre o livro desta vez, achei esquisito, resolvi atentar aos fatos, porem, o mais surpreendente viria com a resposta da mãe: “Não filha, lembra que o Pastor disse que o livro é obra do demônio?” a filha fez uma cara de decepção, digna daquelas memes que aparecem em sites humorísticos, fechou o bico e acompanhou a mãe pelo resto de sua visita a livraria.

“Evangélicos” eu pensei, ou provavelmente algo parecido, cujo não faço questão de discernir, aquela cena me deixou um pouco chateado, não pela ignorância, mas pelo sentido da mãe negar a criança o acesso ao entretenimento construtivo, ao hábito da leitura, e principalmente, livre arbítrio. Claro, sempre vai existir aquela esnobada referente ao conteúdo do livro, mas antes destas vigorarem, vale lembrar-se do que estamos falando, de uma criança, querendo ler um maldito livro.

Eu gosto de ironizar toda essa situação: se o Deus cristão é tão forte e onipresente, porque o subseqüente medo de satã? Às vezes, eu fico abismado com a grande estima que evangélicos e outros cultos dão a tal figura, como se o principal foco de crença fosse ele e sua capacidade de tentação.

Uma vez, aquele LINDO, o Anton LaVey, disse: “Satã tem sido o melhor amigo que a igreja já teve, pois ele cuidou de seus negócios todos esses anos!” e na cultura pop, satã tem sempre sua presença marcada, graças a deus.

O medo dos religiosos em terem de disputar a atenção de seus pupilos com coisas mais interessantes como Naruto, Ben 10 e Harry Potter, vem da falha em compreender o quanto a oratória religiosa no púlpito, as roupas formais e a música gospel são coisas frágeis, enfadonhas e completamente tautológicas para uma mente juvenil, faminta por estímulos.

Condenar a “magia” no livro é também condenar a riqueza de universos narrativos, o glamour de seus fãs e o esforço de escritores, editores e toda indústria por trás do negócio, é condenar, antes de qualquer coisa, a chance que uma criança teve de enriquecer intelectualmente.

Parabéns Evangélicos, vocês, de fato, provaram que o argumento de vocês está correto, aproximando mais uma alma para a danação no inferno da ignorância.