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O Fator SNAFU

 

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"Qualquer pessoa em Washington que não seja paranóica, está simplesmente louca"

Henry Kissinger, ex-secretário de Estado americano

 

Um preceito básico que deveria fundamentar todas as teorias da comunicação, diz: Informação e Hierarquia não combinam. Uma transmissão de informações só flui corretamente se não houver nenhuma preocupação hierárquica no sentido de se passar uma mensagem deturpada para agradar alguém. A submissão de uma hierarquia tende a destruir completamente a possibilidade da informação – Informação aqui deve ser entendida aqui como o Fator Surpresa, a carga de novidade, o elemento desconhecido de uma mensagem – não ser editada, alterada ou até mesmo omitida. Se o conceito não está suficientemente claro, imagine a seguinte situação: um soldado raso que está de guarda no quartel de um batalhão e tirou um cochilo acorda de sobressalto avista um grupamento inimigo invadindo a unidade dele, e precisa urgentemente avisar aos seus superiores. Com toda a certeza esse soldado experimentará um momento de indecisão particularmente pavoroso e intenso. Ele não só precisa deixar todos a par da situação, como precisa livrar o próprio cu de ser rifado por seus superiores, tornando a mensagem receptiva para os que têm o poder de dar-lhe um tiro de punição pelo que fez. Em outras palavras: ele provavelmente criará artisticamente uma versão completamente nova dos fatos que ocorreram, deliberadamente desinformando seus superiores para evitar ser punido. E a punição parece tão assombrosa para um soldado que ele põe em risco toda a unidade militar em nome de um propósito taxado de egoísta.

A situação pode ser extrema, distante, devido a rigidez da vida militar, mas não é muito diferente do que acontece diariamente em uma cacetada de empresas. É o tradicional "Deu merda", que qualquer estagiário ou funcionário subalterno certamente já experimentou. Aí entra a hierarquia. Uma hierarquia – incluindo a empresarial, aparentemente inocente – não funciona se o cara que está acima, não tiver algum tipo de poder fatal, comparável ao revólver. Uma frase clássica cunhada por alguém que no momento não recordo o nome, afirma: "O poder político nasce do tambor de um revólver". Não sejam tão apressados em levar o revólver ao pé da letra de forma integral. O poder do revólver está contido na possibilidade estatística do seu portador atirar na pessoa ameaçada (também deve ser levado em conta a possibilidade do disparo não acertar a vítima), o que exclui a necessidade de uma demonstração. O medo de tomar um tiro é o poder por trás do revólver, ele é basicamente um instrumento de ameaça. E alguém superior em uma hierarquia possui algo similar a um revólver. Pode ser um rito carregado de tradições – "Não responda ao seu pai, moleque!" – ou o poder de colocar em xeque a capacidade de sobrevivência de alguém – "Cometa mais uma besteira dessa, seu verme, que te demito sem pensar duas vezes!". Se acha que esses não são revólveres suficientemente persuasivos, ponha-se a pensar em como seu comportamento com quase certeza é radicalmente diferente na frente dos seus pais, especialmente se você tem mais de 25 anos, em que a fase rebelde de um homem adulto geralmente começa a terminar. Pense também em quantas pessoas você mantém laços suficientemente fortes para pedir ajuda caso TODAS as suas fontes de renda sequem de um dia pro outro. Refletiu? Agora imagine os dois revólveres combinados na sua cabeça e entenda como uma arma social e aparentemente inofensiva pode ser bem poderosa. Se esse peso hierárquico é capaz de ameaçar o curso da vida de qualquer um, imagine o quanto não influencia na integridade de uma Onda de Informação.

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Hackers, Phrackers e o manifesto pela liberdade

Como último post do ano no NerDevils quero falar principalmente dos acontecimentos que ocorreram bem no começo do mês de Dezembro, como todos podem supor, é sobre o caso Wikileaks, mas quero discutir Ativismo/Pacifismo Virtual e a “ética” hacker, fazendo um pequeno intercurso histórico, e não apenas analisar os últimos fatos ocorridos, disso todo mundo já ta cheio de saber e o nosso blog já fez uma cobertura , além da demonstração de apoio. Depois que as chamas visíveis da 1ª InfoWar cujo campo de batalha girava em torno do Wikileaks estão relativamente baixas para o público geral na interwebz, a análise pode ser feita menos apaixonadamente, mas sem perder a força das convicções anarquistas e libertárias de quem está escrevendo aqui.

A operação payback dos Anonymous em seu caráter global e solidário pode ter sido esvaziada após 3 dias de ataques intensos derrubando sites como VISA, MASTERCARD, PAYPAL (mesmo que por pouco tempo), entretanto é evidente que essa guerra continua através de outros meios que só são visiveis agora para grupos especificos de Hackers de verdade, e para seus alvos, no caso grandes bancos, empresas de crédito e alguns governos mundo a fora.  Mas o que fica da operação não foi a efetividade de seus resultados, pois a longo prazo, como muitos falavam desestimulando os ataques no twitter ou outros meios, não tem efeito, o site derrubado vai voltar e tudo vai continuar normalmente. Porém, o ativismo hacker desse fim de ano teve um efeito avassalador na mentalidade dos usuarios de internet e até mesmo das tradicionais esquerdas políticas do mundo todo. Antigamente (e até hoje) quando queria se manifestar sobre algo da sociedade, um grupo se reunia e obstruía as vias das principais avenidas da cidade com cartazes, músicas e gritos de protesto, nos dias de hoje esse tipo de manifestação quando tem um carater extremamente revolucionário não atrai quase nenhuma parcela da população, apenas movimentos de grupos séculares e minoritários ainda conseguem alguma coisa, reunindo sua massa manifesta que antes estava escondida. O que a Operação Payback dos Anonymous mostrou ao mundo foi que há uma outra forma de obstruir o movimento da sociedade, atacando os sites das empresas de crédito e transação monetaria do mundo todo para impedir seu acesso! Essa nossa geração fresca que odeia violência finalmente encontrou um modo de dizer o que quer e causar dor de cabeça sem uso de força bruta ou risco de sofrer repressão! É uma geração furiosa que cresceu vendo 8-bits nas fitas de Nintendo, Megadrive ou um computador  com infima memória e HD e se sentindo sempre insatisfeita mesmo sem saber com o que. Finalmente essa geração achou um modo de soltar suas palavras de protesto engasgadas, de mostrar ao mundo suas reinvidicações por mais absurdas que pareçam às autoridades. O payback serve de exemplo de que vias as manifestações deveriam ocorrer nos anos 2000, lógico que nunca abandonando as tática tradicionais, porém implementando essas que as novas ferramentas possibilitam, dando uma renovação e efetivação nos protestos! 30.000 computadores do mundo todo se arriscando sem proteção em ataques contra diversosalvos e todos voluntários contra os inimigos da liberdade de expressão, 30.000 anônimos lembrando aquela cena final de V de Vingança, 30.000 soldados virtuais, militantes da liberdade geral, 30.000 vítimas da opressão silenciosa que os estados modernos realizam em suas ferramentas, as pessoas. O mais bizarro foi a imprenssa local vincular que os ataques eram feitos por um ataque de vírus a computadores normais por parte dos hackers que transformavam seu computador em “escravos” do deles, recebendo ordem de ataques. HA HA HA, quanta baboseira, isso é a tática normal, o que aconteceu em dezembro desse ano foram ataques voluntários e conscientes de pessoas usando seus computadores, em manifestação não apenas pela liberdade de Assange ou Wikileaks, mas pela liberdade total de comunicação! Ao contrário do que se imagina aquilo que vou chamar de “ética hacker” não surgiu na década de 90 com Wired ou qualquer coisa assim, mas provavelmente com o e-zine Phrack de 1986 e que existe até hoje no endereço www.phrack.org/ .

O nome Phrack é simplesmente uma mistura de Phone + rack (algo mais ou menos traduzivel como atormentar), uma prática comum nos EUA da década de 80 eram jovens estudantes das universidades de cálculo e principalmente da MIT  andarem com caixas pretas pela cidade burlando os sistemas telefônicos em busca da não monetarização dos serviços básicos, cujo telefone eles consideravam um – isso é porque de certa forma uma parcela da geração de 80 acabou carregando o peso da contracultura que ocorreu violentamente na década de 70, abalando o modo de ver o mundo capilistico e ocidental e numa ânsia de liberdade total. Pois bem, o e-zine Phrack desde 86 é organizado por Taran King e além de reunir um monte de técnicas de programação e burlação dos sistemas de telefone, banco e computador, adiciona artigos que ensinam a fazer bombas caseiras e como manusear ou construir certas armas de fogo…. além de notas de noticias do mundo tecnológico. No começo do e-zine ele deixava claro sua posição de anarquista: “Os artigos podem incluir telcom (modos de hackear ou bular sistemas de telefone), anarquia (armas, morte e destruição) ou cracking.” Provavelmente um dos primeiros locais onde podia se encontrar informação querendo ser livre, era no Phrack. Muito da ética hacker foi forjado através de discussões e ações deste e-zine. Há uma semelhança muito grande entre as palavras dos Phrackers e dos Anonymous, sem duvidas essa semelhança não é apenas coincidência.

Vamos ir mais adiante, diretamente ao “Manifesto Hack”, escrito por The Mentor na edição 7 do Phrack, esse que vai acabar nos dizer muito de onde surgiu toda essa necessidade de liberdade da informação e de ação num mundo ligado a computadores. A primeira vez que tive contato com esse texto foi bem esquisito, eu tava navegando pela interwebz procurando uns negocios de keys e talz e fui parar num site de crackers brasileiros, o site havia sido fechado pela Polícia Federal, o conteúdo todo havia sido retirado e só tinha a logo do grupo no centro. Pois bem, tentei ver o código-fonte, não sei bem por qual motivo tentei isso, e lá estava o texto em inglês, fiquei com uma sensação estranha, tipo Neo no Matrix sendo chamado pelo coelho branco ou Dane do Os Invisíveis sendo treinado por Tom O’Bledam. Foi aí, a uns 3-4 anos atrás, que entendi finalmente pela primeira vez porque algumas pessoas lutam pela liberdade na internet. Tive um satori, uma iluminação, causada pelo Manifesto genial de The Mentor.

(obs: é uma tradução livre, as expressões e palavras não estão ao pé da letra, mas o sentido foi mantido)

“=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=- =-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
O texto abaixo foi escrito logo depois da minha prisão …

                       \ / \ A Consciência de um Hacker \ / /

por

+ + + The Mentor + + +

Escrito em 8 de janeiro de 1986
=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=- =-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=

Mais um foi capturado hoje, está em todos os jornais: “Adolescente é preso em escandalo de crime de computador”, “Hacker foi preso em fraude bancária”…

Maldito garoto. São todos iguais.

Mas você, em suas três formas de ver o mundo e pensamento de 1950 algumas vez viu através dos olhos de um Hacker? Você já se perguntou o que ele fazia, quais motivos o levou a fazer aquilo?

Eu sou um Hacker, entre no meu mundo.

Tudo começa na escola… sou mais esperto do que a maioria dos outros garotos e essa merda que nos ensinam me entedia…

Maldito Fracassado. São todos iguais.

Estou no ensino médio ou fundamental. Ouvi o professor explicar pela milésina vez como reduzir uma fração. É fácil. “Não, srª. Smith, eu não mostrei no trabalho como fiz. Fiz tudo de cabeça…”

Maldito garoto. Provavelmente copiou de alguém. São todos iguais.

Descobri algo hoje. Achei um computador. Opa, isso é legal. Ele faz o que quero. Se ele faz algo errado é porque eu errei. Não porque ele não gosta de mim…

Ou se sente ameaçado por mim…

Ou porque pensa que sou inteligente…

Ou não gosta de ensinar e portanto não deveria estar aqui…

Maldito garoto. Tudo que ele faz é jogar. São todos iguais.

E então aconteceu… uma porta aberta para o mundo… correndo pela linha telefônica como heroína nas veias de um viciado, um pulso eletrônico é enviado na procura de um refugio da incompetência do dia-a-dia… uma placa é achada.

“Este é… o meu lugar…”

Conheço todos aqui, mesmo que eu nunca tenha encontrado eles, nunca tenha conversado com eles, nunca pude ouvi-los pela segunda vez… Eu conheço todos vocês…

Maldito garoto. Prendendo a linha telefônica de novo. São todos iguais.

Pode ter certeza que somos todos iguais… somos alimentados com comida de bêbê na escola quando nossa fome é de bife… os pedaços de carne que vocês nos deixam jogados já são mastigados e sem gosto. Fomos dominados por sádicos, ou ignorados por apáticos. Os poucos que nos tinham algo a ensinar nos fizeram de pupilos, mas esses são raros como gotas de agua no deserto.

Este é o nosso mundo… o mundo do elétron e do módulo, a beleza do byte. Nós fazemos uso dos serviços existentes sem pagar, algo que poderia ser barato se não fosse usado por gananciosos aproveitadores, e vocês nos chamam de criminosos. Nós exploramos… e vocês nos chamam de criminosos. Nós buscamos conhecimento e vocês nos chamam de criminosos. Nós existimos sem cor de pele, nacionalidade, sem preconceito religioso… e vocês nos chamam de criminosos. Vocês constroem bombas atômicas, fazem guerra,  assassinam, enganam, e mentem para nós e tentam nos fazer acreditar que é pro nosso próprio bem, contudo nós somos os criminosos.

Sim, eu sou um criminosos. Meu crime é a curiosidade. Meu crime é julgar as pessoas pelo o que elas dizem e pensam, não pelo que parecem. Meu crime é ser mais inteligente que vocês, algo pelo qual nunca vão me perdoar.

Eu sou um Hacker, e este é meu manifesto. Vocês podem parar este indivíduos, mas vocês não podem parar todos nós… afinal, somos todos iguals.

+++The Mentor+++”

Com esse belo texto do The Mentor que não precisa de qualquer explicação para se notar a semelhança com o que vem acontecendo, encerro a minha participação esse ano no NerDevils. Que todos nós do blog consigamos continuar postando por aqui, defendendo não uma bandeira totalmente abstrata em nome de um partido ou grupo, mas a liberdade, a única coisa pela qual se vale a pena lutar, a liberdade de todos! E a internet não está fora dessa batalha, aliás, elas nos dias de hoje é a última esperança de ser livre, quando isso aqui cair na censura, no controle por parte dos estados e da sociedade, o homem vai ter que inventar outras maneitas de tentar frustrar os planos de controle total da sociedade tecnocrata, esta que deixou de ser exclusividade do ocidente…  Atualmente somos pessoas que comem menus ao invés das comidas, que temos orgulho de morder a isca, como um peixe no fundo do mar indo em direção ao anzol. Boa sorte, para todos nós em 2011 e para a tão surrada e velha liberdade.

PRIMEIRA GUERRA CIBERNÉTICA!

Uma visão um pouco mais curta e grossa sobre o caso Wikileaks

LSD e Vazamentos… a repressão é previsível

 

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Ele [Timothy Leary] é o homem mais perigoso da América

Richard Nixon

Devemos tratar o sr. Assange da mesma forma que outros valiosos alvos terroristas: matá-lo

Jeffrey T Kuhner, no Washington Times

 

No verão de 1960, Timothy Leary, em viagem de férias ao México, recebeu de Anthony Russo,um amigo antropólogo, um presente: alguns cogumelos alucinógenos conhecidos como Psilocibina. Leary, após pegar o título de PhD em Psicologia, estudou o cérebro humano e a relação dele com o comportamento por 10 anos. O efeito dos cogumelos durou 5 horas, e Leary disse posteriormente que essas horas foram mais importantes que toda a vida acadêmica anterior dele, com mais de 15 anos. Foi o tipo de transformação iniciática que toda pessoa deveria experimentar, que joga num caminho doido e sem volta. Ele agora tinha a convicção que o mundo visto pelos humanos – com aparência concreta, absoluta – era apenas uma projeção mutável do cérebro, extremamente maleável e manipulável. É o que os hindus chamam de maya.

Depois de voltar das férias, Leary pôs se a espalhar seu evangelho psicodélico, inclusive entre pesquisadores de Harvard, onde dava aulas. Ele convenceu o Departamento de Psicologia a permitir que ele fizesse testes com a substância em alunos voluntários. No mesmo período ele conheceu o LSD, descoberto pelo suíço Dr. Albert Hoffman, nos anos 40. A substância seria a chave para a intensificação das suas pesquisas com seus próprios alunos, auxiliado na tarefa pelo também professor Richard Alpert.

Entretanto, parece que os anos 60 realmente tinham certa propensão ao Caos, já que as coisas começaram a sair do controle. Professores não estavam gostando do uso livre de drogas em Harvard, mesmo com fins científicos. Alunos que não conseguiram se inscrever nas pesquisas, se puseram a arrumar alucinógenos de outras formas, aumentando ainda mais a desconfiança de certos setores de Harvard para o trabalho de Leary e Alpert. O polícia foi chamada e convocou o departamento anti-drogas, que avisou a CIA. No fim das contas, Leary foi pressionado, e junto com Alpert, acabou deixando seu cargo de professor e pesquisador em Harvard.

As igrejas americanas também não gostaram das pesquisas, nem da parte teórica. Leary dizia que o LSD e outras drogas psicodélicas ativavam partes elevadas do cérebro humano, o que geralmente conduzia a visões de religiões mais calcadas no politeísmo… e como é de se imaginar, a rigidez do monoteísmo não cabe nessas mudanças cerebrais. Governos, igrejas e corporações perderam seu poder, pois os macacos amestrados tomariam consciência de seu amestramento, tendo condições de imprimir uma nova forma de viver, livre de amarras mentais auto-impostas.

"Viver é surfar o caos. Você não pode modificá-lo, mas pode aprender a lidar com ele surfando seus limites. Tem mais, meu caro: ninguém é realmente místico por mais de cinco minutos. Não está contente ainda? Te digo uma coisa que aprendi na minha vida, aprendi muito profundamente: toda a realidade que nos cerca não passa de uma opinião".

Foi a citação dele que provavelmente melhor sintetizou sua crença nas drogas psicodélicas como libertação.

Em 1962, Leary e Alpert continuaram suas pesquisas por conta própria, numa fazenda em Millbrook. Toda sorte de gente foi pra lá, de artistas importantes da época, até hippies que só queriam se drogar um pouco. A condição para receber o ácido era relatar toda a viagem detalhadamente. Com a grande popularidade da Fazenda, o governo Nixon achou que era uma boa idéia usar Leary e suas pesquisas como bode expiatório para uma mudança cultura profunda na época. Uma série de batidas violentas começou, e logo as pesquisas terminaram. O governo anuncia que as pesquisas dele eram “muito perigosas” – estranhamente, as pesquisas nucleares nunca foram classificadas assim. A imprensa naturalmente acompanhou a sanha paranóica do governo, e publicou várias reportagens de psiquiatras que rosnavam que o LSD e a maconha eram as maiores ameaças a humanidade.

 

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As acusações vinham de tantos lados, que certos setores da sociedade o acusaram de ajudar a CIA com seu infame projeto MK ULTRA, que queria exercer o controle mental pleno através de privação dos sentidos e uso de drogas psicodélicas. Como estamos falando de sujeira da CIA, é difícil dizer se Leary participou ou não, afinal é tudo secreto por lá. Mas uma prova que refuta essa afirmação são os resultados da participação de Leary no projeto de reabilitação de presos da penitenciária de Massachussetts, de 1960 a 1962. A prisão era conhecida pelo alto índice de reincidência e pela violência de seus presos. Segundo dados da própria cadeia, 80% dos presos tratados por Leary – usando um misto de LSD, com terapia em grupo (terapia essa que seus professores de Harvard disseram ser anti-científica e impossível de ser aplicada) – jamais retornaram às grades, mesmo 15 anos depois. Os presos entrevistados falaram que tiveram uma compreensão tão ampla da vida durante o tratamento, que perceberam como o crime era patético por si só – enquanto isso, os tratamentos no MK ULTRA eram conduzidos por agentes secretos, e geravam bad trips e suicídios.

Como qualquer ferramenta, o LSD poderia ser usada para o “bem” e para o “mal”. Mas segundo dados de Leary e Alpert, ela agia num nível cerebral anterior a Cultura – é como programar um computador num nível abaixo do sistema operacional – se mostrando como um poderoso agente que pode ser usado para lavagens cerebrais. O que muda são as técnicas e a vontade de quem está usando LSD. No caso do tratamento de Leary em presos, o desejo deles de nunca mais voltar ao crime está documentado, eles eram voluntários. No MK ULTRA não havia voluntários, muito pelo contrário. A idéia da CIA era desenvolver técnicas de ministrar as drogas sem que as pessoas soubessem.

 

Em 1965, Leary enfrenta a lei de frente: foi preso na fronteira com o México com um cigarro de maconha. Pena? 30 anos, mas uma apelação resolveu o problema. Em 1968 outra prisão, também por posse de maconha. Mais uma apelação. Em janeiro de 1970 ele é novamente preso e sentenciado a 10 anos de cadeia – por algo que pela lei só deveria no máximo dar seis meses de grade. Ele é resgatado pelo grupo radical The Weather Underground e foge pra a Argélia e se reúne com os Panteras Negras. O próximo destino é a Suíça, onde busca asilo. O governo suíço lhe nega asilo e denuncia sua posição para os EUA. Ele voa para Viena, Beirute e depois Afeganistão, onde é preso pela CIA no aeroporto e mandado para os EUA, em 1972. Ele só sairia da cadeia em 1976, libertado pelo governador da Califórnia Jerry Brown, na época que Watergate mandava abaixo o governo americano. Depois dessa libertação, ele dedicaria a vida a programar computadores.

Timothy Leary morreria em 1996, vítima de câncer de próstata. Em seu leito de morte, as dores eram tantas que chegava a inalar óxido nitroso (gás hilariante) direto do bocal do cilindro. Após o óbito, sua cabeça é separada do corpo e congelada (pedido dele, esperando que as tecnologias de ressurreição progridam no futuro) e suas cinzas são jogadas no espaço, junto com as de  Gene Roddenberry, criador de Star Trek.

 

As personalidades influenciadas diretamente por Leary e pelo LSD são várias, e os resultados obtidos por elas parecem mostrar que as pesquisas dele não deveriam afinal, ser tão perigosas assim. Um sem-número de bandas – das quais se destacam os Beatles e The Who – disse ter desenvolvido melhor sua criatividade sob efeito de LSD. Bob Dylan e Brian Wilson, dos Beach Boys, disseram mudar seus estilos para melhor após experimentarem drogas psicodélicas. Poetas como Allen Ginsberg e  Lawrence Ferlighetti e escritores do naipe de Aldoux Huxley e William Burroughs, disseram alcançar seu máximo com o uso do ácido lisérgico. Grant Morrison disse ter escrito muito de Os Invisíveis sob efeito de LSD. Bill Gates disse ter sido muito influenciado por Leary em seus anos em Harvard, e que usou LSD. Com Steve Jobs é a mesma coisa, ele disse que o LSD foi uma das coisas mais importantes da vida dele. Francis Crick, ganhador do Nobel, só percebeu a feição de dupla hélice do DNA após uma viagem lisérgica; o mesmo para Kary Mullis, que levou o Nobel de Química em 1993 por criar o sistema de detecção de DNA, em material ancestral, hoje conhecido como exame de PCR.

Não são poucos depoimentos para mostrar que ao menos alguma influência que pode ser taxada de positiva, vem do LSD. E Leary nunca quis a liberação total da droga, mas sim seu uso clínico, por psicólogos e médicos experientes. Porém, o governo botou uma tampa em cima das pesquisas para sempre.

 

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Percebe o paralelo? Temos um dissidente social – querendo mostrar que o mundo que vemos não é tão simples assim – acusado por um crime menor após ser caçado pelo mundo, suas atividades são consideradas uma ameaça a vidas inocentes – substitua por establishment – mesmo apoiadas por uma vasta camada da população. As conspirações não ficam de fora, e chovem acusações de que ele trabalhou para o governo (a CIA, mais especificamente). Não, Julian Assange não é o primeiro que enfrenta o governo com um pouco de subversão, e nem será o último. A diferença é que hoje temos algo chamado internet que conecta as informações numa velocidade ultra-rápida, escancarado uma série de tretas governamentais como nunca. Hoje, como previu o próprio Leary, existem hackers, ataques anônimos contra instituições poderosas, a balança não está mais pra um lado, a velha mídia de massa não é mais única no mundo.

Assim como o caso de Leary, muitos estão sendo levianos com o Wikileaks, se focando unicamente nas revelações recentes sobre a diplomacia americana, e se esquecendo que o Leaks mostrou ao mundo detalhes de torturas feitas pela ONU no Quênia e na Somália, procedimentos criminosos em Guantánamo, e operações escusas de petrolíferas na África, fora o já famoso massacre conhecido como Chacina Colateral.

Não sei se Assange é estuprador, se é autocrático e ditador como afirmam dissidentes do Wikileaks… assim como não sei se tudo que Leary escreveu sobre o LSD e o condicionamento cultural. Aceito que essas são possibilidades, e sei que a figura simbólica dos dois transcende o tipo de acusação que recebem. Não sei como será o desfecho dessa caçada a Assange e seu Wikileaks, mas sei que o mundo depois desses dias nunca mais será o mesmo – assim como não foi depois que que o LSD invadiu o mundo; e como não foi depois que uma força policial sueca apreendeu os servidores do Pirate Bay, em 2006!

 

Galileu [Via Cogumelos Mágicos e Aldeia dos Insurretos Furiosos Desgovernados]

Wikileaks: as frentes de batalha

(Antes de mais nada, caso você não saiba o que anda rolando na na Web envolvendo o a organização Wikileaks e Julian Assange, recomendo a leitura desse texto ótimo do Voz do Além no blog-irmão Nerds Somos Nozes e este outro texto do blogueiro e também nerd André Forastieri, porque aqui vamos direto ao ponto.)

O Wikileaks solta na rede 250.000 documentos dos serviços diplomáticos dos EUA. O site já havia divulgado documentos pesados sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque, mas parece que agora o pessoal ficou realmente bravo. Políticos republicanos nos EUA (como Sarah Palin) conclamaram que Julian Assange deveria ser caçado e preso como um terrorista. E eis que os Caras-Cinza começam a se mexer.

Da Suécia surgiu uma acusação dupla de “sexo forçado e sem preservativo” contra Assange, o que foi suficiente para para colocarem a Interpol atrás dele. Ele se entrega à justiça inglesa e aguarda sua primeira audiência encarcerado. Se a Suécia vai conseguir a extradição ainda é uma dúvida.

A Amazon deixou de hospedar o Wikileaks. O PayPal deixou de receber doações para o site. Os cartões de crédito Visa a Mastercard deixaram também de receber doações. O banco suíço onde Assange tinha suas contas congelou seus bens. Todos alegando que as “atividades criminosas” de Assange e do Wikileaks violavam os contratos de prestação de serviços.

Nada disso iria parar o Wikileaks e o vazamento dos documentos. Mas por que então todo esse circo? Marketing de guerrilha. Ao ver Assange se fodendo com ataques vindos de polícia, governos e até empresas, a idéia é mostrar que “ou você fica na sua ou vamos dar um jeito de colocar na sua bunda”.

Mas os Cara-cinza cometeram um erro fatal: criaram um mártir. Pior ainda, confirmaram várias teorias que antes pertenciam somente aos “teóricos do conspiração” e subestimaram a inteligência da população em geral. Sejamos francos, NINGUÉM levou a sério que foi “mera coincidência” as acusações já arquivadas contra Assange serem reabertas agora. E a porrada veio forte.

Um grupo intitulado Anonymous resolveu bater de frente com tudo isso atacando os sites que prejudicaram Assange e o Wikileaks. E neste semana caíram via ataques DDoS os sites do banco suíço que congelou as contas de Assange, o PostFinance, o site de Sarah Palin, o site do advogado sueco que está representando as moças que acusam Assange de estupro e, pasmem, os sites da Visa e do Mastercard! A essa operação foi dada o nome de Operation Payback (“Operação Dar o Troco”).

O Anonymous não possui líder, base de operações ou qualquer tipo de organização formal. Juntam-se quando tem que fazer algo, fazem e depois desaparecem. Usando programas como o Tor ou botenets (os chamados “computadores-zumbi”), é praticamente impossível rastreá-los, identificá-los e, por consequência, capturá-los.

Notem que eles somente tiraram os sites do ar e não os serviços em si, pois também estão fazendo Marketing de Guerrilha. E o recado aqui é muito similar aquele dado por Tyler Durden ao chefe de polícia na cena do jantar do filme “O Clube da Luta”: “Não mexa conosco”. Por hora eles ainda não causaram nenhum dano real ao sistema, mas NESSE EXATO MOMENTO estão tentando derrubar do ar o site do PayPal e aí sim a brincadeira começa de verdade.

Me perguntaram ontem se essa galera não está “pegando pesado” e eu digo que não. As empresas e governos deixaram muito claro o que estão defendendo, escolheram seu lado. E agora te que arcar com as consequências disso. E o pessoal do Anonymous tá pouco se lixando aos possíveis danos que suas ações vão causar. A operação não chama “dar o troco” à toa. Um elemento que as pessoas que não militam esquecem é que um movimento como esse tem o papel de DESTRUIR. Isso mesmo, movimento reivindicatórios não tem NENHUMA OBRIGAÇÃO de propor soluções para os problemas dos quais reclamam, existem pessoas eleitas e concursadas trabalhando para isso. O papel de um movimento reivindicatório é reivindicar e só. Aí o governo/empresa senta na mesa de negociação com a galera e tenta um acordo.

Então o Anonymous está reivindicando a soltura de Assange e usa como isso as armas que tem. “Não dava pra fazer isso de maneira mais civilizada?” me perguntam alguns. NÃO! Já leram “V de Vingança”? Lá temos um sujeito que simplesmente destrói tudo. E só. Ela não tem as soluções e nem quer saber delas. Tanto que arruma outra pessoa para arrumar DE UM JEITO DIFERENTE DE COMO ERA antes do estrago que ele fez

E é aí que entram as outras frentes dessa guerra virtual.

Com servidores sendo “convidados” a não hospedarem o Wikileaks, corremos sério risco de não ter acesso ao conteúdo do site, então estão criando diversos “sites-espelho” para assim ser impossível apagar tudo o que foi divulgado.

Também estão sendo criadas alternativas de doação de dinheiro para a manutenção do Wikileaks.

Fizeram uma petição pela soltura de Assange e pelo fim da perseguição ao Wikileaks. Você pode assiná-la aqui.

Mas a principal coisa que podemos fazer é divulgar tudo isso. Seja em blogs, Facebook, Twitter, e-mail, cartazes na rua ou conversas de bar, FALE SOBRE ESSE ASSUNTO, explique o que está ocorrendo. Mais que uma guerrilha de marketing, essa é uma guerra ideológica.

Nós do Nerdevils escolhemos ficar ao lado do Wikileaks. E você?

Leiam também:

Carta de Protesto do Anonymous

#IamWikileaks

Why stopping here?

Solidariedade ao Wikileaks

Falar sobre o Wikileaks não é como ponderar sobre acontecimentos do passado, o clima de inquietude revolucionária na era digital nos obriga a escrever enquanto o corpo ainda não esfria, você sabe, acompanhe o hype. Que, na língua dos enrangés, não é um termo novo, apenas adaptado, vale lembrar que frission já saia das bocas dos moderninhos e afeminados décadas atrás. A discussão a cerca do Wikileaks torna-se hype ou frission graças a nossa má educação democrática, Julian Assange, para alguns, virou uma espécie persona non grata momentânea, o bêbado na festa da democracia, para outros, o tópico da semana, há quem acuse Julian Assange e trupe de estarem em busca dos holofotes da fama na sociedade da informação. Faz parte também de nossa culpa, encabeçar os holofotes da era do efêmero, em achar que as mudanças são tão céleres para serem percebidas e/ou em nosso pessimismo coletivo, a situação está tão enraizada que a mudança não é possível, aquela velha retórica do ponto ômega, o “Fim da História”.

É uma alegoria interessante, pegue os últimos momentos do patético Matrix Revolutions, onde um gato preto caminha sobre os escombros chuvosos da Matrix, logo depois a mesma é reiniciada, voltando a normal, e o gato continua a caminhar, alheio as transformações a sua volta. É mais ou menos assim que nós temos nos comportando, estamos adaptados a ruptura, a incisão na paisagem, inoculados, é preciso resgatar sensibilidade.

Por exemplo, a escalada de eventos cujos estados do mundo e o Wikileaks protagonizaram, demonstraram, aos poucos, a erosão da ingenuidade da internet como um vetor de informação livre, um gambito à inocência de seus navegantes, o evento é como a volta de seus antigos deuses, das fragatas espanholas assombrando os indígenas, das tropas mexicanas em volta do Álamo, os grandes conglomerados de comunicação retornaram, furiosos, pra ver o estrago que nós causamos durante sua ausência…

É um ponto de partida, podemos dizer, que dessa vez, peões de ambos os lados cruzaram o rabecão.

Para entender melhor isso, seria interessante analisar melhor a situação: o Wikileaks é de fato inimigo dos Estados Unidos? Ou ele tem atacado os interesses daqueles que parasitam a máquina do estado democrático, não só americano, mas mundial? Documentos vazados indicam abusos e irregularidades envolvendo Petroleiras, Indústrias Bélicas, Tecnologia da Informação, Contratos Militares Privados, Bancos, Dinastias Políticas e etc. aparatos terceirizados e/ou corruptos

O papel do Wikileaks é em denunciar os abusos de tais grupos em frente ao estado, em retratar os verdadeiros culpados, o grande tentáculo da política americana nada mais é do que um aparato de assessores de imprensa, empresários, tecnocratas, advogados e lobistas querendo fechar o cerco ao site, ratos de contrato, assim nós podemos dizer, afinal, foi essa a desculpa para grupos como Amazon, MasterCard, Visa, PayPal se acovardarem perante a “crise”.

Precisamos entender que o grande oprimido não somos nós, mas a instituição que zela por nós, a democracia ocidental foi rendida por esta corja plutocrata, esta é a hora derradeira, onde devemos nos sensibilizar, movimentar, demonstrar solidariedade.

Combater os panfletários partidários travestidos de imprensa, que são encontrados em qualquer lugar do mundo, a transparência jornalística, assim como nossa sensibilidade a mudanças, é um valor que precisa ser resgatado, é um direito nosso que está em jogo.

A coincidente acusação de abuso sexual a Julian Assange apenas demonstra a necessidade em desacreditar a obra de uma pessoa, afinal, para o populacho, o que é mais fácil de lembrar? Herói ou Maníaco? Um exército de juristas, advogados e engravatos genéricos foram mobilizados para encontrar um crime, uma emenda, um erro de digitação que justificasse tirar Assange de cena.

E isso, inclusive, reflete uma desmoralização do judiciário, pois, até onde eu sei, abuso sexual é uma acusação séria e não mero “chiste” acusatório.

Muita coisa está em jogo, nós estamos de olho.

Sites interessantes para conhecer as ações e importância do Wikileaks,

http://sowhyiswikileaksagoodthingagain.com/

http://wikileaks.foreignpolicy.com/