Arquivos da Categoria: Magia do Caos

E fim de papo!

Certas coisas são marcantes em nossas vidas por lembramos de cada detalhe delas: aquele fora da menina por quem você era apaixonado na quinta série; o melhor cachorro-quente que você comeu na sua vida no Playcenter após ter passado fome por ter esquecido dinheiro em casa; três playboys te chutando no meio da rua após ter dado uma resposta inteligente a uma zoeira deles… Creio que já me fiz entender. Mas também existem eventos que são inesquecíveis justamente por não termos a mínima ideia de como eles aconteceram! E o NerDevils é um deles.

Quando perguntam para nós como surgiu o blog, a “versão oficial” é de que os nove membros iniciais do blog se conheceram em uma das campanhas “#PublicaINVISIBLES” no Twitter, viram que tinham gostos em comum e resolveram montar um blog coletivo. Isso é parte de verdade. A única coisa que sabíamos uns sobre os outros ao resolver abraçar a ideia era a de éramos nerds e estávamos a fim de escrever sem QUALQUER TIPO DE AMARRA. O resto foi pura sincronicidade. Não tenho a menor ideia de como os nove membros iniciais do blog vieram parar na minha timeline. E, caso pergunte a eles onde se conheceram a resposta não será muito diferente desta.

E assim, de impulso mesmo, foi decidido um nome, feito um logotipo, criadas contas para todos e saímos postando. Falamos de comportamento, música, HQ, política, mangá, anime. Postamos crônicas, tirinhas e diarréias mentais. E fomos percebendo que havia um fio condutor que nos ligava. Anarquia. Ocultismo. Caos. Detalhes destes três itens podem ser encontrados em praticamente todos os textos. E claro que isso nos impulsionou para escrever mais e mais. Todos os que estavam no blog tinham outros projetos mais “sérios” ou “comerciais”, mas o NerDevils era um espaço em que podíamos fazer o que bem entendíamos.

O blog nunca foi um campeão de visualizações, mas tinha um público fiel. Produziu ótimos textos, foi objeto de estudo, fez parcerias com editoras e até baladas. Mais do que isso, gerou profundas mudanças na vida de muitos envolvidos nele. Alguns que estavam aqui começaram a escrever em blogs maiores, outros arrumaram trabalho devido a contatos feitos por aqui (seja fixo ou free-lancer). Um pouco do NerDevils está em todos estes lugares.

Com tudo isso, percebemos que este espaço virtual cumpriu seu papel, que foi ser o “start” para um monte de outros projetos dos envolvidos aqui. E, tendo já feito o que tinha que fazer, nada mais justo do que dar um fim digno a ele. Não queríamos deixar o blog abandonado, achando que ele vai voltar à ativa um dia. Aqui, 1 ano e 8 meses depois, com 202 posts e 889 comentários, os colaboradores do NerDevils fecham as portas para alçar voos maiores que só a experiência obtida aqui pode proporcionar.

O blog permanecerá no ar para que os incautos ainda possam ler as garatujas redigidas aqui, mas textos novos do povo daqui podem ser lidos nos blogs Mobground, Contraversão e Sai Daqui!.

Fica aqui o muito obrigado à equipe formada por Roberto “Synthzoid” Maia, Filipe “Voz do Além” Siqueira, Agostinho “Agrt” Torres, Amanda Armelim, Rafael Dadalto, Aline Cavalcante, Danieli Dagnoni e também aos colaboradores Alan “Gafanhoto” Lima, Dan Erik, Eder Alex e Raphael Evangelista.

Nos encontramos por aí neste vasto mundo virtual. Mais do que um fim, este é um novo começo!

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Brainstorm – Cada Vez Pior

Estava eu fazendo uma resenha, mas após um papo no Gtalk com um amigo de longa data regado a muito conhaque, não estou em condições de fazer um texto respeitoso sobre um livro que possui mais falhas do que méritos. Porém, como diria Spider Jerusalém, meus testículos de escritor estão fervendo, então vamos dar vazão ao que está querendo sair da minha cabeça.

(sim, seus punheteiros de merdas, eu sei que o bom e velho Spider disse  “jornalista” e não “escritor”, mas vocês entenderam, porra)

Caralho, como eu errei no primeiro parágrafo do texto. Fiquei um bom tempo corrigindo os erros. Só os deuses sabem o tempo que vou passar corrigindo este parágrafo e os próximos para amanhã constatar que perdi tempo inutilmente tentando corrigir coisas que escapam à minha mente ébria. Foda-se. Vamos prosseguir.

(…)

Acabei de virar um bom gole de uma caneca que estava vazia. Caneca esta que tem com tema o acima citado Spider Jerusalem. Ciclos, ligações, insigths, coincidências, sincronicidades. Liguei meu Atrator de Sincronicidades há muito tempo e vira e mexe eu esqueço de desligar . Aí temos um monte de fatos aleatórios formando um padrão que pode ser real ou puro fruto de uma droga legal. Julguem por si mesmos.

(coçando a barba e tentando formular ideias que não conseguirão trilhar todo o caminho entre meu cérebro e as pontas dos meus dedos)

Aí você vai mijar e encontra uma barata. Rola aquele papo maneiro com um de seus Totens Animais e tudo faz sentido. Elas realmente estão em todos os lugares e todos os tributos feitos estão sendo devidamente retribuídos. A tatuagem não pode passar deste ano. Elas fizeram a parte delas. Tenho que fazer a minha.

(…)

Eu sou o Rei Calango e eu posso fazer o que eu quiser.

(…)

Aí uma stripper nerd te pergunta se está drogado. O quão bizarro é isso? Ouvir Doors sempre abre portas quando estou chapado, por mais clichê que isso possa parecer. Já acessei tantas coisas ouvindo esse álbum que não duvido que o simples ato de apertar “play” já foda com tudo.

(…)

Acabaram de me chamar divindade e de me cobrar uma dívida. Porra… Também chamaram de doente e me pediram dicas de auto-ajuda. Não sei se fico feliz ou ofendido.

(…)

Essa merda de mouse tá zoado e dá duplo-clique sem eu querer. Os mouses do trampo dão o mesmo problema. Malditos gremlins.

(…)

Mais uma vez eu comprovo que nada que preste sai quando estou muito louco. Critiquem o texto à vontade nos comentários. Foda-se.

 

 

Entropias grant-morrisianas #3 – Gideon Stargrave e o fim dos tempos

Esta é a parte que mais me interessa em todas essas publicações do Morrison na Near Myths. Uma história sobre Gideon Stargrave publicada em 3 capítulos através de dois números da revista (nº3 e nº4). Aliás, é por causa de Gideon Stargrave que esta série de posts se chama “entropias morrissonianas”. Entropia é a palavra que faz parte dos plots relacionados ao personagem e que também será muito usada por Morrison no conjunto de suas obras. Entropia é uma forma de se chegar ao caos exatamente pela… super-concentração de energia. Digamos que socialmente quanto mais rígida é uma sociedade, maior vai ser sua desordem quando “n” fatores entrarem em descontrole. E com o “tempo” acontece algo similar, quanto mais o tempo se concentrar em uma dimensão, em uma realidade, mais próximo ele chegará de sua própria extinção. E o que acontece quando o tempo deixa de existir? Bem, vai lá se saber.

O personagem Gideon Stargrave foi baseado em "Jerry Cornelius", um personagem de Michael Moorcock. Uma espécie de assassino perigoso que viajou no tempo numa máquina defeituosa e acabou originando uma desordem no tempo-espaço.

Essa é a parte que mais me interessa porque comecei a pesquisar sobre as outras publicações de Grant Morrison justamente no intuito de compreender melhor a obra Os Invisíveis, que foi a primeira HQ do Morrison que li e que na época explodiu a minha cabeça. Muito do que seria desenvolvido nessa HQ que só iria começar a ser publicada em 1994, com Morrison já em relativa ascensão dentro da área dos quadrinhos, já aparece exposta nesses volumes de Gideon Stargrave de dezembro de 1978 e setembro de 1979 respectivamente.

A verdade é que todas as obras do Morrison se conectam de alguma forma na sua figura de administrador/criador do universo ou em sua característica mais marcante: o uso do caos e da desinformação como destruidor da aparente racionalidade e ordem da realidade. Isso vai estar presente tanto em seus roteiros mais mainstream (como Batman e Superman) quanto (e principalmente) nas obras mais introspectivas/autorais (como The Invisibles/ Filth).

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Near Myths #3 – Gideon Stargrave – Part I: The Vatican Conspiracy

A história começa com uma cena de um corpo em chamas. Trata-se de Joana D’Arc. De repente estamos num ambiente retrô-pop-futurista-psicodélico, com imagem até do Mickey e Donald em uma das paredes.

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Nesse ambiente uma moça acabou de entrar após tocar a campainha e encontra um cara de cabelos claro, tamanho mediano sentado numa cama (ou sofá?) limpando uma arma, ele tem a aparência de um veterano em combates, tipo ex-agente ou coisa do tipo.

Você é Gideon Stargrave? – pergunta a moça, com boina francesa e cabelo curto e escuro.

– Geralmente sim – ele responde fazendo charme. – Mas você sabe como são as coisas nos dias de hoje – completa fazendo a arma brilhar a colocando contra a luz.

Assim começa as histórias de Gideon Stargrave, que se não fosse pelo nível de loucura do enredo, não passaria de uma cópia quadrinesca de James Bond. Mas é muito mais, logo em seguida a moça diz que se chama Jan Dark e prontamente um padre explode a porta da casa e tenta matá-los, mas Gideon é mais rápido.

A menina falou que o “caos ameaça”. Gideon ri. Eles saem andando por Londres e Gideon acaba sendo baleado por um guarda real com… boca de pato! Segundo o guarda, eles estão em uma zona de entropia e por isso estão dentro de um perímetro em que as forças policiais podem matar livremente!

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A história toda é sobre CAOS. Algo está prestes a levar o mundo a um último nível de entropia e desarranjando o tempo. Arquétipos, traição, caos, engramas, poesias intercalando os cortes de cenários, conspirações, ressurreições, neuro-psicologia, anarquia, Londres, suicídio em massa… o fim do mundo pelo Ragnarok e entropia terminal. Tudo isso orquestrado pelo maligno papa do Vaticano tentando destruir esse mundo incrédulo, ateísta!! E Jan Dark faz parte do plano. O que Gideon Stargrave pode fazer quase sozinho?

Near Myths #4 – Gideon Stargrave – Part II: The Vatican Conspiracy

Nessa segunda parte Jan Dark e Gideon Stargrave partem em direção ao Vaticano, querem resposta para os acontecimentos recentes. Na neve enfrentam os capangas do Vaticano que os monitora em tempo real. Apesar de todos os esforços descomunais de Gideon, uns caras vestidos ao estilo Ku Klux Kan acabam levando Jan Dark e mais uma vez atiram certeiramente no ex-espião.

Atingido, caído no chão e abandonado, a neve cobre o corpo de Stargrave. Teria sido seu fim? Não, algo extremamente relevante pra quem curte os Invisíveis acontece, fora de si, Gideon se levanta ressuscitado ao estilo “mortos-vivos” no meio da neve! Então é aqui que Morrison cola na página um trecho de Rei Lear:

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Gideon Stargrave é um Tom! Um pobre e louco Tom, como Tom O’ Bedlam de Invisíveis! No capítulo anterior Gideon também invocou um espírito do “tempo”, para poder conter o caos que estava se expandindo em Londres, bem ao estilo Dane e Jack Frost! Seria uma espécie de espírito protetor? Bem, não quero com isso dizer que os dois universos (Invisíveis e Gideon Stargrave da Near Myths) sejam o mesmo, apenas quero salientar que desde o meio dos anos 70 Morrison já estava amadurecendo algo, algum esquema de realidade mágico-tecnologica-anarquica que só se concretizaria com Os Invisíveis.

Uma freira é enviada para finalizar com Gideon. Os homens do Vaticano sabem que ele não está morto. A freira tem o poder de arremessar matéria através de portais temporais e alcançar o caos de nível 0 (seja lá o que isso quer dizer)! Mas Gideon resiste à tentativa de rasgarem a sua concepção de realidade, consegue despertar do transe atinge a freira com uma bala. Agora ele precisa localizar Jan Dark!

Near Myths #5 – Gideon Stargrave – The Fenris Factor

Gideon invade o local onde Jan Dark está sendo torturada e ao estilo Bruce Lee (sim, há há há) derrota todos os caras vestidos ao modo Ku Klux Kan que trabalham pro Vaticano e liberta a moça.

Num quarto novamente com figuras pops (só reconheci agora o Che Guevara) Jan Dark revela ser Joana D’Arc. Ela diz que só seu poder pode derrotar “o lobo” e que por outro lado, apenas Gideon está destinado a derrotá-lo, então ela quer dar seu poder a ele. Os dois fazem sexo ritualístico e quando terminam, após absorver um poder maior que a vida e que a morte, Stargrave mata Jan Dark, sabendo que seu ciclo de ressurreição acaba ali.

Em seguida nos é apresentada a irmã de Gideon, que era dona do quarto em que ele e Jan Dark estavam. Ela é apresentada de maneira sexualmente provocante, se chama Genevieve e parece ser um trauma na mente de Gideon (creio que ela é aquela loiraça que aparece em The Invisibles em alguns momentos).

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Por fim Gideon invade o Vaticano e tenta interromper um ritual de invocação do Papa. Mas já é tarde, o lobo Fenris já foi invocado. O ritual libertou o filho de Loki da corrente mágica forjada pelos anões e agora ele vai cumprir sua missão de devorar o mundo. “Ragnarok, o fim de tudo no gelo e no fogo.”

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Gideon não se enfraquece e convoca as hordas dos infernos para ajudá-lo contra o lobo. Ele invoca Vine, Flauros e Andras! Três demônios muito conhecidos da demonologia medieval. Com ajuda dos demônios Gideon consegue derrotar Fenris, mas perde uma de suas mãos.

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No fim da página, tem escrito que no próximo número Gideon Stagrave retornaria com “The Entropy Concerto”. Uma fato que infelizmente nunca chegou a acontecer. Infelizmente mesmo, porque as pirações dessas histórias do ex-espião são muito interessantes, misturam mitologia, neuropsicologia, ciência e um monte de baboseira pop, além de frases de efeito e um mix religioso-cultural impressionante. Gideon retornaria apenas em Os Invisíveis, mas já em outro contexto dentro dos quadrinhos. Retornaria como parte de uma “hyper-narrativa”.

Os desenhos do Morrison aqui são muito melhores do que em Time Is A Four Lettered Word. A narrativa é tensionada o máximo possível pelos traços na tentativa de nos jogar dentro das entropias ou memórias confusas de Gideon. Enfim, claro que olhando de agora parece uma espécie de esquema do que seria “Os Invisíveis”, mas ver APENAS assim seria tirar o mérito de Gideon Stargrave em si. Talvez na verdade Morrison nem tivesse idéia do que lhe viria à frente, ou talvez já pensasse em alguns arquétipos de personagens como King Mob, quem diabos vai saber? Só fiquei surpreso em não haver comentários mais demorados sobre Gideon em Supergods¸ talvez o careca esteja evitando a confusão que o personagem causou. Gideon é considerado por alguns apenas plágio na cara dura de Jerry Cornelius, o já citado personagem de Moorcock.

Entropias grant-morrisianas #1 – Near Myths

Começo aqui uma série de posts sobre a produção do Grant Morrison. Desejo, se for possível e se a paciência deixar, analisar desde HQs mais obscuras como Bible John – A Forensic Meditation, Kid Eternity, The New Adventures of Hitler, Kill Your Boyfriend, Dan Dare e The Mystery Play, até as mais populares como SuperMan All Star, Liga da Justiça da América, The Invisibles e New X-Men.

Como não poderia ser diferente, vou começar do princípio da carreira de Morrison, que pode ser considerada como sendo as suas contribuições à revista Near Myths. Quando for preciso explicar algo além dos quadrinhos em si, como agora em relação a Near Myths e ao contexto histórico em que a obra foi produzida, farei posts específicos. Usarei de base para isso entrevistas e declarações do autor em documentários, revistas, blogs e principalmente no seu livro, Supergods.

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A Near Myths foi uma revista em quadrinhos de ficção científica e fantasia para adultos que durou apenas cinco edições, com a primeira sendo de 1978 e a última de 1980. Apesar de uma vida tão curta em relação a outras revistas, ela teve um papel relevante na indústria dos quadrinhos britânicos, seja por ter sido o primeiro emprego relativamente profissional na área que Grant Morrison teve, ou por ter dado destaque a outros artistas como Bryan Talbot e Graham Manley.

Na primeira Convenção de Quadrinhos de Glasgow, Morrison estava com sua auto-estima elevada, ele a pouco tinha se tornado punk. Ser punk, aquela idéia do “faça você mesmo”, da importância da atitude em detrimento do profissionalismo, o fazia sentir capaz de qualquer coisa, tinha revivido sua paixão pelos quadrinhos. Foi então que Morrison decidiu levar alguns de seus trabalhos, mais especificamente tiras de Gideon Stargrave, para a convenção na tentativa de arrumar algum lugar pra trabalhar. Lá ele encontrou Rob King:

“Rob King simplesmente gostou das minhas páginas e imediatamente me ofereceu £ 10 para cada uma que ele colocasse na Near Myths. Pela primeira vez na minha vida eu estava sendo levado a sério por alguém que não fosse minha mãe ou pai, ou cinco anos mais novo do que eu.” (Supergods – Capítulo 11)

Tony O’ Donnell, que também tinha acabado de ser aceito na Near Myths, disse que ao ver o trabalho de Morrison teve que admitir a Rob King a sua genialidade, principalmente após saber que Morrison tinha apenas 17 anos de idade!

A Near Myths era editada por Rob King. E Rob King era um dos donos de uma livraria especializada em ficção científica na cidade de Edinburgh. O fim dos anos 70 eram anos confusos, a utopia da geração hippie pouco se sustentava depois que a década de 60 não mudou o mundo, o que deu brecha para o punk criar novas bases comportamentais entre a juventude, deixando claro que as coisas estavam mudando como um todo. Não mudando revolucionariamente, ou para melhor como a geração anterior queria, mas estavam mudando à sua própria maneira e os quadrinhos não ficariam de fora desta mudança.

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A importância de relacionarmos a paixão de Rob King por ficção científica com sua função de editor da Near Myths é simples: sua revista em quadrinhos não era de super-heróis normais, era uma revista acima de tudo de ficção científica. O que apontava prematuramente para o gênero que com Neuromancer e Star Wars, por exemplo, dominaria todas as mídias na primeira metade dos anos 80. Além disso, o público alvo da revista eram os adultos, contrariando toda a lógica da época que focava principalmente em capturar crianças e adolescentes.

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Se a Era de Prata acenava a decadência do gênero horror nos quadrinhos –levando pra cova as histórias de detetives também-, o fim dela acenava a decadência de todo o gênero dos super-heróis. No instante em que os super-heróis foram jogados na sarjeta por “Watchmen”, a ficção científica se tornou o combustível que manteria os quadrinhos em movimento. Ficção científica e tecnologia tinham muito mais a ver com o punk e a nova geração do que heróis cuecudos salvando o mundo. Para Morrison durante essa época “quadrinhos e super-heróis eram entediantes. Eu era sci-fi punk. Foda-se”.

As contribuições de Morrison na Near Myths (e que vou analisar uma delas por semana, postando nos sábados aqui no NerDevils) foram:

#2 – Time Is A Four Lettered Word

#3/#4 – Gideon Stargrave

#5 – The Checkmate Man

Fontes:

Interview with Morrison about his early work including Near Myths:

http://homepage.ntlworld.com/fish1000/index/lostcontent/gm-afterimage6-jan88.txt

Interview with Tony O’ Donnell – comic artist (Ivy the Terrible and early collaborator with Grant Morrison): http://www.garenewing.co.uk/home/writing/tony.php

Lançamento do livro “Vagabundo sem nome”!

Dando mais uma amostra de vasta influência cultural deste blog e do profundo esforço intelectual dos autores do mesmo, o nosso querido Agostinho Rodrigues Torres (vulgo Agrt) lançou no última dia 16 (estamos no mês de setembro do ano de 2011, caso esteja acessando este blog após o fim do mundo em 2012) o seu romance “Vagabundo sem nome” e posto abaixo dois vídeos dele comentando sobre o que fala sua obra e do processo para escrevê-la.

Parte 1

Parte 2

Parabéns e ficamos na espera de quando vai vender pro país todo, né?

PS: Agradecimentos especiais ao Vinícius pela filmagem!!

Fator Caos: Mitologia Escandinava

(OBS: SE VOCÊ É UM DESCENDENTE DE GERMÂNICO QUE QUER PRESERVAR A PORRA DA SUA CULTURA A TODO CUSTO E GOSTA DE SOCAR QUEM “DISTORCE” A MITOLOGIA DOS SEUS ANCESTRAIS, NÃO LEIA ESSA BOSTA – coloquei esse aviso porque durante 6 anos de webz, já tive muito conflito com neo-nazistas e descendentes de germânicos que não aceitam que alguém “impuro” toque a sua “cultura imponente”)

Como aqui no Brasil a grande maioria das nossas referências culturais – começando pela língua portuguesa – é proveniente do mundo Greco-Romano, fica parcialmente mais fácil entendermos a mitologia grega. De “Khaos”, veio a nossa grafia de Caos, e etc. No caso da mitologia que desejo discutir hoje, a escandinava, a coisa fica mais complicada. Palavras como “Ginnungagap”, “Ymir” e “Audhumla”, não querem nos dizer nada, mas os nomes em mitologias são sempre a base que sustenta toda a narrativa. Ele por si só já apresenta o personagem e sua função no cosmos. Eu mesmo, como não tenho tanta facilidade com línguas do tronco germânico não posso nem supor a etimologia dessas palavras, no entanto podemos analisar o contexto geral em que essas entidades aparecem e ponderarmos sobre sua função no universo mitológico!

A mitologia escandinava é muito confusa. Como não chegaram relatos em si, escrito pela própria civilização pré-cristã, o que temos são apanhados confusos que serviram como tentativa cristã de preservar uma tradição já quase perdida de diversas comunidades germânicas, em plena Idade Média.

Não nos é explicado exatamente como as coisas aconteceram, mas de alguma forma, existiam apenas dois territórios: o do fogo e o do gelo. Sem vida, sem nada. Apenas frio, calor, lava e neve. No meio dessas duas coisas existia o Ginnungagap, o vazio que precede tudo, algo como o CAOS grego primordial. Esse vazio é uma espécie de zona de confusão, é onde o fogo e o gelo se encontram; onde o frio se entrelaça com o calor; choque térmico; zona anárquica; confusão; nada. Desse incessante conflito entre o gelado e o quente, dessa roda cósmica de sensações térmicas sucedâneas girando entre a lava vulcânica e a neve primordial, surgiu a primeira coisa viva. O gigante chamado Ymir! A vida surgiu do Caos que ocorria na zona anárquica do Ginnungagap. Sem o silêncio, não existiria o som. Da mesma maneira, sem o nada, nada existiria. A não-existência precede a existência, assim como Ginnungagap precede Ymir.

Das partes superiores de Ymir surgiu o primeiro casal de forma humanóide, das inferiores nasceram os gigantes de gelo. Provavelmente brotada da mesma forma que Ymir, existia uma espécie de vaca chamada Audhumla, que alimentava o grande gigante primordial. Essa vaca lambendo o gelo do território frio, fez nascer outro tipo de humanóide, chamado Buri. Que teve um filho – provavelmente com a criatura feminina humanóide surgida das partes superiores de Ymir – chamado Bor e consequentemente teve três filhos: Odin, Vili e Vê.

Essas três criaturas juntas conseguiram através de um embate feroz, derrotar o gigante de gelo primordial Ymir. Do sangue derramado pela criatura primordial falecida, quase toda a raça dos gigantes de gelo se afogou, sobrevivendo apenas o gigante Bergelmir. O mundo tal como conhecemos, surgiu através da morte de Ymir! Seu sangue se transformou na água, sua carne na terra, seus ossos nas pedras e nas montanhas e da cabeça surgiu o céu (com 4 anões, um em cada canto, para mantê-lo fixo). Os anões nasceram como vermes através de uma geração espontânea na terra (que na verdade é a carne de Ymir), eram criaturas com uma proximidade tão grande com esse elemento que manipulavam de maneira magnífica qualquer mineral, se tornando desta maneira ótimos artesões! Já os seres humanos comuns, os habitantes de Midgard (nosso mundo humano), foram forjados em toras de madeira encontradas numa zona litorânea pelas três criaturas humanóides que derrotaram Ymir. Essas três entidades se auto-denominaram deuses.

Bem, daí a mitologia se desenvolve, explicando a criação dos 9 mundos habitados por criaturas diferentes: elfos, elfos escuros, gigantes de gelo, gigantes comuns, humanos, deuses, anões, trolls etc. etc. etc. Mas o que nos interessa no Fator Caos é mais a gênese das coisas. Nesse processo de criação de tudo fica evidente alguns traços que na verdade são cíclicos: do nada surge a vida primordial estabelecendo uma ordem (Ymir surgiu do Ginnungagap), que é superada por uma nova forma de vida (Ymir foi morto por Odin, Vili e Vê) e por último se estabelece uma nova ordem (os três deuses recriando o cosmos e dividindo em 9 mundos). É algo cíclico, assim como Zeus seria derrotado, segundo uma profecia, por Athena, na mitologia escandinava existe o Ragnarok.

O Ragnarok é o fim da velha ordem, a roda cósmica girando e dando espaço para uma nova forma de organização. É a instauração momentânea da anarquia, única coisa capaz de derrubar a velha ordem e recriar tudo. Os deuses são derrotados pelos seus inimigos principais, algo que estava escrito na sua orlog (algo como destino, melhor, tábua que as Nornas escrevem com aquilo que vai acontecer na vida das criaturas vivas desde que nascem, nem os deuses podem superá-la). Algumas coisas da velha ordem vão ficar… claro, mas uma novidade necessária vai emergir. Do CAOS surgirá a vida, como sempre acontece.

O deus Loki tem uma semelhança arquetípica imensa com Judas. Claro que o sentido é um tanto diferente, são até ramificações culturais diferentes entre hebraicos e gemânicos (ou é tudo indo-europeu? Sei lá, não lembro), Loki não tem nada de “diabólico”, exatamente como a igreja do período medieval gostava de pintar. Porém, Loki é o mal necessário, ou melhor, o mal não maniqueísta, do conflito (que é harmonia) entre o bem e o mal surge a vida! A mudança! Da contradição, do choque entre o ruim e o bom, dois lados, duas facções, mas não necessariamente oposições radicais! Uma harmonia de dissonância! Loki é o líder do exército de criaturas que vai enfrentar os deuses do panteão de Odin, ele vai convocar cada uma das criaturas que estão fadadas a derrotar os deuses. Ele é essencial para que o destino fixado além dos deuses se realize… algo como Judas, não? Acho Loki o mais dócil dos deuses escandinavo, mais próximo da zombataria do que da perversidade. Infantilidade e maldade. Pureza e malicia. Loki e Judas.

Nesse conflito caótico, as duas forças vão se anular, se destruir, emergindo um novo mundo das cinzas desse cosmos destruído. Caos é uma harmonia sensivelmente diferente, é uma ordem que está fora da razão, e que é mutável, por tanto, ordem desordenada. O Caos, meus amigos, está em TUDO. Basta apurar o olhar, que você encontra.

(PRÓXIMO EPISÓDIO: NÃO SEI AINDA QUE PORRA DE MITOLOGIA, ALGUMA COISA HINDU TALVEZ)

Fator Caos: Mitologia Grega

[Esse é o primeiro texto de uma sequência que chamarei de “Fator Caos: Na Mitologia X”, onde analisarei a função do Caos em algumas mitologias]

Em alguns períodos na vida de qualquer ser humano, tudo parece sem sentido. As pessoas na rua, a posição aleatória das árvores, prédios, pedras jogadas no chão, rios, o sistema planetário, a distancia entre as cidades, a forma absurda que as gotas de chuva caem, enfim, tudo parece arbitrário, sem organização, jogado de qualquer forma… as nossas próprias vidas ficam resumidas a uma série de acidentes temporais/espaciais, em que um fator aleatório de acontecimentos nos leva até onde chegamos. Simples e puramente acidentes, que não tem significado especial, que não são nada. Algumas pessoas atravessam esse período se apegando a filosofias, religiões e/ou ciência, já outras permanecem céticos até o fim, sendo os verdadeiros “ateus” existenciais.

Esse fator aleatório que aparentemente não tem qualquer sentido é o que chamo de fator Caos (geralmente uso o epíteto Kaos do Jorge Mautner, dessa vez deixarei normal). A palavra “sentido” no Dicionário Aurélio Online significa: S.m. Faculdade de receber impressões externas por meio de órgãos sensoriais: o sentido da visão. / Faculdade de sentir ou perceber: o sentido divinatório. O Caos certamente está relacionado com os órgãos sensoriais, tudo no ser humanos está, no entanto não se limita a isso – os órgãos sensoriais têm a ver com o mundo material, limitado – e nem a uma percepção de estático, parado, o Caos é mais condizente com uma palavra similar: extático – imprevisível, metafísico e transcendente. É uma “ordem” que não é hierárquica nem racional, por isso não cabe na palavra “ordem”, nem na palavra “sentido” porque nos leva a algum lugar, mas não a um lugar definido e certo – um paraíso, ou redenção final das almas-, apenas nos leva sempre a algum lugar dinâmico qualquer. O Caos é o princípio da vida.

Somos um acidente químico, mesmo se formos uma criação divina esse fato não deixa de ser aleatório. Porque nós? Porque não outro tipo de espécie? Outro tipo de evolução? Porque Deus não criou outras criaturas ao avesso da humana? Porque fomos dotados dos nossos dotes racionais? Porque aquela molécula de hidrogênio se fundiu com outra criando a vida? Perguntas irrespondíveis mesmos em termos científicos. Aliás, perguntas que se respondidas primariamente pela nossa mais sostificada ciência apenas vai abrir mais uma série perguntas, estas cada vez menos passíveis de respostas. A ciência pode repetir o processo de criação da vida, mas não entende porque ele ocorre daquela forma e não de outra, simplesmente acontece e isso basta. Pode se entender o mecanismo de funcionamento de algo – ou como se formou no tempo/espaço-, no entanto ainda fica um ar de “acidente” biológico. Os cientistas mais equilibrados nem mesmo tentam responder tais perguntas, eles estão mais preocupados com transformar aqueles dados em privilégios práticos/dominação das aparentes dificuldades presentes.

Na sociedade contemporânea o sentido iluminador e transcendente do Caos foi esquecido, provavelmente pelo desenvolvimento científico que colocou a metafísica em oposição direta ao materialismo! O Caos se tornou uma espécie de niilismo radical, sem propósito em si, apenas uma busca do nada. Existem alguns grupos mágico/existenciais que tentam retomar o caminho do Caos, entretanto esse caminho deve ser traçado sozinho e não por bulas, claro que indicações são imprescindíveis, apenas indicações e não receitas de como se chegar a alguma lugar! Até porque não há lugar a se chegar…

O Caos não pode e nem deve ser considerado como uma percepção moderna do mundo tal como o Ateísmo – que só se tornou vigoroso pelo mesmo motivo que levou a derrocada metafísica do Caos. Os gregos, escandinavos, budistas entre tantos outros povos de vários tempos falam dele!

No começo da Teogonia, texto em que Hesíodo descreve toda a genealogia dos deuses gregos, o poeta canta:

“Sim, bem primeiro nasceu Caos, depois também

Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre,

dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado,

e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias,

e Eros: o mais belo entre Deuses imortais,

solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos

ele doma no peito o espírito e a prudente vontade.”

No começo era o Caos, o vazio primordial! Dele surgiram todos os outros deuses. Nessa versão do poema isso não fica claro, no entanto Gaia (Terra) e Tártaro (escuridão primordial) surgiram por uma espécie de mitose do Caos. Digamos que o Caos era contraditório e baseado num principio de não-existência que existe, então dessa fissura surgiu Gaia e Tártaro (lembrando que Caos é algo como: cisão, divisão, corte, rachadura, separação). Quanto a Eros, na versão de Hesíodo nasce com os deuses primordiais, porém existem versões no qual Eros é filho de Afrodite com Zeus ou Hermes ou Ares. O papel de Eros parece ser uma versão sexualizada da criação, já que Caos não possui sexualidade. Se discute muito hoje se Gaia, Tártaro e Eros seriam na verdade “irmãos” e não “filhos” do Caos. Particularmente considero isso uma discussão errônea, Gaia, Tártaro e Eros não são filhos nem irmãos do Caos e sim uma força propulsora no cosmos que partiram do Caos e seguiram suas próprias direções! Já numa segunda fase, do Caos surgem como “filhos” Nyx (Escuridão dos Céus) e Érebus (Escuridão das Profundezas) que também surgiram por mitose, daí pra frente Caos passa a ser pouco mencionado. Sua função primordial parece ser dividir, fissurar, rachar e negar a existência para criar elementos do cosmos. Tudo surge do Caos (mesmo que ele seja a não existência), e ele passa a agir pouco em sua desajeitada criação (não consciente).

Um exemplo da mitologia grega que considero um retorno da ação do fator Caos é o surgimento de Tifão. A criatura com 100 braços horrendos com aspecto de serpentes, cujos braços eram da extensão de todo oriente e ocidente, que fazia seu grito apavorante ecoar bem mais alto que o próprio Olimpo (morada dos deuses) era cria da união entre Tártaro e Gaia (duas criaturas surgidas diretamente do Caos!). Gaia ajudou Zeus a derrotar Cronos, (na conhecida Titanomaquia = guerra dos Olimpianos contra os Titãs), no entanto depois ficou arrependida e quis vingar a derrota dos Titãs (seus filhos) pelo deus do Olimpo, criando Tifão.

Tifão escalou o monte Olimpo para enfrentar os deuses, aos quais desprezava profundamente. Ao saberem que a criatura aterrorizante buscava destruí-los, os deuses Olimpianos se transformaram em animais e fugiram para o Egito! (Hera se metamorfoseou em vaca, Apolo em falcão, Ares em peixe, e etc. só Athena permaneceu humana, e até o grande Hércules fugiu! Esse é o motivo através do qual os gregos toleravam os egípcios, acreditavam que os deuses misturados com animais que os mesmos cultuavam, eram os deuses fugidos do confronto com Tifão). Zeus se escondeu no Monte Cássio, onde acabou enfrentando corpo a corpo Tifão, que após uma intensa luta em que foi ferido pelos raios do senhor dos deuses conseguiu desarmar e vencer Zeus! Tifão é pelo que conheço a única criatura que chegou a derrotar Zeus, cortando os tendões das suas pernas e outros músculos, o deixando imobilizado e sem seus raios. Vitorioso a horrenda criatura escondeu os despojos do corpo de Zeus numa pele de urso que deixou sob proteção do dragão Delfine. Então os deuses do Olimpo se reúnem e resolvem fazer alguma coisa, afinal, só Zeus tem poder suficiente para derrotar a criatura e está com o corpo preso na Cilícia numa gruta chamada Corícia. Pã e Hermes armam um plano através do qual conseguem recuperar os tendões e raios de Zeus. Pã com sua cantoria atraiu tanto Delfine quanto Tifão, e Hermes com sua velocidade e astúcia recuperou os tesouros dentro da pele de urso, tratando logo de devolver ao senhor do Olimpo.

Zeus recuperado e de posse de seus raios lança uma chuva de raios sobre Tifão e as criaturas arrepiantes que ele havia trazido a luz do dia. Por um tempo Tifão se esconde no monte Nisa, onde as Moíras o enganam, fazendo com que perca parte de sua energia. Então enquanto arremessava montanhas em Zeus, Tifão atingido violentamente pelos raios do deus. No momento em que estava no topo da montanha Hêmon na Trácia, Tifão foi atingido ferozmente pela chuva de raios de Zeus, que finalizou o combate jogando a montanha Etna sobre a criatura horrenda, de onde jamais conseguiu sair. Até hoje o monte Etna lança lavas vulcânicas, vinda do sangue da criatura derrotada por Zeus, que ainda jorra.

Assim como Cronos havia recuperado a ordem cósmica do arbitrário Urano, castrando seu órgão genital, Zeus representou uma derrocada dos valores titânicos estabelecidos por Cronos, que mesmo sendo pai do tempo negava a mudança constante advinda do cosmos primordial, o próprio Caos. Zeus com seus irmãos haviam derrotado a velha ordem! Agora o próprio Zeus, que recuperou o cosmos do Caos na Titanomaquia, representava um sistema de valores definitivo, que se negava a ser desmantelado. A manifestação de Tifão no cosmos parece uma ação do agente das forças primordiais (fator Caos), que desaprovava a atitude prepotente e arbitrária do senhor do Olimpo. Tifão desafiou e venceu Zeus, porém, em uma reviravolta o Caos foi provisoriamente derrotado, dando mais tempo ao reino do senhor dos raios.

Não vamos esquecer que há uma profecia que se desenvolve no nascimento de Athena. Zeus consultou oráculos, que garantiram que caso tivesse uma filha, esta se tornaria mais forte que o pai. Zeus engoliu Métis, para impedir que a criança nascesse. Quando passou o período da gravidez normal Zeus começou a se sentir mal, com dores de cabeça e pediu a Hefestos que abrisse sua cabeça, de onde a deusa Athena surgiu já com armadura e lança! Dessa maneira, Zeus não conseguiu impedir o nascimento daquela que vai lhe derrotar, e a mesma Athena ainda não é forte o suficiente para vencer seu pai. Zeus zela pela sua filha justamente na esperança de que a profecia nunca se cumpra…

No próximo post (algum dia nesta vida): Caos na Mitologia Escandináva.

Iemanjá e Seth, um paralelo

Por Dan Erik

Ontem, assistindo uma vinheta daquela série Sagrado, me veio uma correlação interessante entre Iemanjá e Seth que pode indicar mudanças no culto a Iemanjá.

Ano passado eu encontrei no Scribd um estudo acadêmico extenso chamado Seth, God of Confusion – A study of his role in egyptian mythology and religion, de 1967. Entre outras coisas, o autor, H. Te Velde, fala que além de deus da confusão ( não no sentido de baderna, mas no sentido de caos, desordem e desagregação ) Seth também foi cultuado no Antigo Egito como deus das fronteiras, de qualquer espécie, fronteiras territoriais ou metafísicas.

O autor relata que a conexão de Seth com as fronteiras, já existisse na segunda dinastia, porque imagens do animal relacionado a Seth, que é tão deus da confusão que ninguém sabe dizer ao certo que animal era, ao contrário de todos os outros deuses, é visto em cenas de caça no deserto, e na terra das gazelas. Então imaginava-se que o animal sethiano vivesse fora do mundo habitado. Cada povoado que se instalasse perto das fronteiras do Egito cultuava Seth e pedia sua proteção, portanto.

Deve ficar claro, que nessa época Seth não era um deus maligno como é retratado e cultuado hoje. Seth fazia o par Criação/Destruição com Hórus. Os dois não se eliminavam mutuamente, muito pelo contrário, eram duas faces da mesma moeda. E isso se dá pelo próprio pensamento dual da religião egípcia. “as above, so below” etc. As pessoas agradeciam a Seth por ter vencido a serpente Apophis entre outros feitos. Mas tudo mudou quando outros povos passaram a invadir e saquear o Egito, e é aí que chego ao ponto que eu quero. Esse tipo de acontecimento coloca em cheque o poder de Seth como deus das fronteiras, como se ele não estivesse mais cumprindo suas funções de repelir os demônios do deserto.

A partir daí ele passa a ser execrado e se torna um deus mal. E qual é a relação com Iemanjá, catso? Acho um absurdo cultuar uma deusa das águas no rio de janeiro quando as enchentes destruíram tantas casas e tantas vidas. O correto seria dar “uma bronca” na deusa, quando ela não cumpre algo que faça parte de sua jurisdição. Ou como os egípcios fizeram com Seth, a execrem e a tornem uma deusa traiçoeira como Loki. É claro que não se pode mudar uma tradição de séculos, mas se as enchentes se tornarem rotina, até mesmo os seguidores mais ferrenhos de Iemanjá fariam a seguinte reflexão: “a água inundou a minha casa e agora vou cultuar a deusa das águas?” Senta lá, Claudia! É essa a minha previsão para o futuro de Iemanjá.

Dan Erické formado em Design pela ESPM, sofredor do Paraná Clube e egiptólogo. Seu blog é Tesseract! e seu msn solipsistomaschewsky@hotmail.com

Hackers, Phrackers e o manifesto pela liberdade

Como último post do ano no NerDevils quero falar principalmente dos acontecimentos que ocorreram bem no começo do mês de Dezembro, como todos podem supor, é sobre o caso Wikileaks, mas quero discutir Ativismo/Pacifismo Virtual e a “ética” hacker, fazendo um pequeno intercurso histórico, e não apenas analisar os últimos fatos ocorridos, disso todo mundo já ta cheio de saber e o nosso blog já fez uma cobertura , além da demonstração de apoio. Depois que as chamas visíveis da 1ª InfoWar cujo campo de batalha girava em torno do Wikileaks estão relativamente baixas para o público geral na interwebz, a análise pode ser feita menos apaixonadamente, mas sem perder a força das convicções anarquistas e libertárias de quem está escrevendo aqui.

A operação payback dos Anonymous em seu caráter global e solidário pode ter sido esvaziada após 3 dias de ataques intensos derrubando sites como VISA, MASTERCARD, PAYPAL (mesmo que por pouco tempo), entretanto é evidente que essa guerra continua através de outros meios que só são visiveis agora para grupos especificos de Hackers de verdade, e para seus alvos, no caso grandes bancos, empresas de crédito e alguns governos mundo a fora.  Mas o que fica da operação não foi a efetividade de seus resultados, pois a longo prazo, como muitos falavam desestimulando os ataques no twitter ou outros meios, não tem efeito, o site derrubado vai voltar e tudo vai continuar normalmente. Porém, o ativismo hacker desse fim de ano teve um efeito avassalador na mentalidade dos usuarios de internet e até mesmo das tradicionais esquerdas políticas do mundo todo. Antigamente (e até hoje) quando queria se manifestar sobre algo da sociedade, um grupo se reunia e obstruía as vias das principais avenidas da cidade com cartazes, músicas e gritos de protesto, nos dias de hoje esse tipo de manifestação quando tem um carater extremamente revolucionário não atrai quase nenhuma parcela da população, apenas movimentos de grupos séculares e minoritários ainda conseguem alguma coisa, reunindo sua massa manifesta que antes estava escondida. O que a Operação Payback dos Anonymous mostrou ao mundo foi que há uma outra forma de obstruir o movimento da sociedade, atacando os sites das empresas de crédito e transação monetaria do mundo todo para impedir seu acesso! Essa nossa geração fresca que odeia violência finalmente encontrou um modo de dizer o que quer e causar dor de cabeça sem uso de força bruta ou risco de sofrer repressão! É uma geração furiosa que cresceu vendo 8-bits nas fitas de Nintendo, Megadrive ou um computador  com infima memória e HD e se sentindo sempre insatisfeita mesmo sem saber com o que. Finalmente essa geração achou um modo de soltar suas palavras de protesto engasgadas, de mostrar ao mundo suas reinvidicações por mais absurdas que pareçam às autoridades. O payback serve de exemplo de que vias as manifestações deveriam ocorrer nos anos 2000, lógico que nunca abandonando as tática tradicionais, porém implementando essas que as novas ferramentas possibilitam, dando uma renovação e efetivação nos protestos! 30.000 computadores do mundo todo se arriscando sem proteção em ataques contra diversosalvos e todos voluntários contra os inimigos da liberdade de expressão, 30.000 anônimos lembrando aquela cena final de V de Vingança, 30.000 soldados virtuais, militantes da liberdade geral, 30.000 vítimas da opressão silenciosa que os estados modernos realizam em suas ferramentas, as pessoas. O mais bizarro foi a imprenssa local vincular que os ataques eram feitos por um ataque de vírus a computadores normais por parte dos hackers que transformavam seu computador em “escravos” do deles, recebendo ordem de ataques. HA HA HA, quanta baboseira, isso é a tática normal, o que aconteceu em dezembro desse ano foram ataques voluntários e conscientes de pessoas usando seus computadores, em manifestação não apenas pela liberdade de Assange ou Wikileaks, mas pela liberdade total de comunicação! Ao contrário do que se imagina aquilo que vou chamar de “ética hacker” não surgiu na década de 90 com Wired ou qualquer coisa assim, mas provavelmente com o e-zine Phrack de 1986 e que existe até hoje no endereço www.phrack.org/ .

O nome Phrack é simplesmente uma mistura de Phone + rack (algo mais ou menos traduzivel como atormentar), uma prática comum nos EUA da década de 80 eram jovens estudantes das universidades de cálculo e principalmente da MIT  andarem com caixas pretas pela cidade burlando os sistemas telefônicos em busca da não monetarização dos serviços básicos, cujo telefone eles consideravam um – isso é porque de certa forma uma parcela da geração de 80 acabou carregando o peso da contracultura que ocorreu violentamente na década de 70, abalando o modo de ver o mundo capilistico e ocidental e numa ânsia de liberdade total. Pois bem, o e-zine Phrack desde 86 é organizado por Taran King e além de reunir um monte de técnicas de programação e burlação dos sistemas de telefone, banco e computador, adiciona artigos que ensinam a fazer bombas caseiras e como manusear ou construir certas armas de fogo…. além de notas de noticias do mundo tecnológico. No começo do e-zine ele deixava claro sua posição de anarquista: “Os artigos podem incluir telcom (modos de hackear ou bular sistemas de telefone), anarquia (armas, morte e destruição) ou cracking.” Provavelmente um dos primeiros locais onde podia se encontrar informação querendo ser livre, era no Phrack. Muito da ética hacker foi forjado através de discussões e ações deste e-zine. Há uma semelhança muito grande entre as palavras dos Phrackers e dos Anonymous, sem duvidas essa semelhança não é apenas coincidência.

Vamos ir mais adiante, diretamente ao “Manifesto Hack”, escrito por The Mentor na edição 7 do Phrack, esse que vai acabar nos dizer muito de onde surgiu toda essa necessidade de liberdade da informação e de ação num mundo ligado a computadores. A primeira vez que tive contato com esse texto foi bem esquisito, eu tava navegando pela interwebz procurando uns negocios de keys e talz e fui parar num site de crackers brasileiros, o site havia sido fechado pela Polícia Federal, o conteúdo todo havia sido retirado e só tinha a logo do grupo no centro. Pois bem, tentei ver o código-fonte, não sei bem por qual motivo tentei isso, e lá estava o texto em inglês, fiquei com uma sensação estranha, tipo Neo no Matrix sendo chamado pelo coelho branco ou Dane do Os Invisíveis sendo treinado por Tom O’Bledam. Foi aí, a uns 3-4 anos atrás, que entendi finalmente pela primeira vez porque algumas pessoas lutam pela liberdade na internet. Tive um satori, uma iluminação, causada pelo Manifesto genial de The Mentor.

(obs: é uma tradução livre, as expressões e palavras não estão ao pé da letra, mas o sentido foi mantido)

“=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=- =-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
O texto abaixo foi escrito logo depois da minha prisão …

                       \ / \ A Consciência de um Hacker \ / /

por

+ + + The Mentor + + +

Escrito em 8 de janeiro de 1986
=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=- =-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=

Mais um foi capturado hoje, está em todos os jornais: “Adolescente é preso em escandalo de crime de computador”, “Hacker foi preso em fraude bancária”…

Maldito garoto. São todos iguais.

Mas você, em suas três formas de ver o mundo e pensamento de 1950 algumas vez viu através dos olhos de um Hacker? Você já se perguntou o que ele fazia, quais motivos o levou a fazer aquilo?

Eu sou um Hacker, entre no meu mundo.

Tudo começa na escola… sou mais esperto do que a maioria dos outros garotos e essa merda que nos ensinam me entedia…

Maldito Fracassado. São todos iguais.

Estou no ensino médio ou fundamental. Ouvi o professor explicar pela milésina vez como reduzir uma fração. É fácil. “Não, srª. Smith, eu não mostrei no trabalho como fiz. Fiz tudo de cabeça…”

Maldito garoto. Provavelmente copiou de alguém. São todos iguais.

Descobri algo hoje. Achei um computador. Opa, isso é legal. Ele faz o que quero. Se ele faz algo errado é porque eu errei. Não porque ele não gosta de mim…

Ou se sente ameaçado por mim…

Ou porque pensa que sou inteligente…

Ou não gosta de ensinar e portanto não deveria estar aqui…

Maldito garoto. Tudo que ele faz é jogar. São todos iguais.

E então aconteceu… uma porta aberta para o mundo… correndo pela linha telefônica como heroína nas veias de um viciado, um pulso eletrônico é enviado na procura de um refugio da incompetência do dia-a-dia… uma placa é achada.

“Este é… o meu lugar…”

Conheço todos aqui, mesmo que eu nunca tenha encontrado eles, nunca tenha conversado com eles, nunca pude ouvi-los pela segunda vez… Eu conheço todos vocês…

Maldito garoto. Prendendo a linha telefônica de novo. São todos iguais.

Pode ter certeza que somos todos iguais… somos alimentados com comida de bêbê na escola quando nossa fome é de bife… os pedaços de carne que vocês nos deixam jogados já são mastigados e sem gosto. Fomos dominados por sádicos, ou ignorados por apáticos. Os poucos que nos tinham algo a ensinar nos fizeram de pupilos, mas esses são raros como gotas de agua no deserto.

Este é o nosso mundo… o mundo do elétron e do módulo, a beleza do byte. Nós fazemos uso dos serviços existentes sem pagar, algo que poderia ser barato se não fosse usado por gananciosos aproveitadores, e vocês nos chamam de criminosos. Nós exploramos… e vocês nos chamam de criminosos. Nós buscamos conhecimento e vocês nos chamam de criminosos. Nós existimos sem cor de pele, nacionalidade, sem preconceito religioso… e vocês nos chamam de criminosos. Vocês constroem bombas atômicas, fazem guerra,  assassinam, enganam, e mentem para nós e tentam nos fazer acreditar que é pro nosso próprio bem, contudo nós somos os criminosos.

Sim, eu sou um criminosos. Meu crime é a curiosidade. Meu crime é julgar as pessoas pelo o que elas dizem e pensam, não pelo que parecem. Meu crime é ser mais inteligente que vocês, algo pelo qual nunca vão me perdoar.

Eu sou um Hacker, e este é meu manifesto. Vocês podem parar este indivíduos, mas vocês não podem parar todos nós… afinal, somos todos iguals.

+++The Mentor+++”

Com esse belo texto do The Mentor que não precisa de qualquer explicação para se notar a semelhança com o que vem acontecendo, encerro a minha participação esse ano no NerDevils. Que todos nós do blog consigamos continuar postando por aqui, defendendo não uma bandeira totalmente abstrata em nome de um partido ou grupo, mas a liberdade, a única coisa pela qual se vale a pena lutar, a liberdade de todos! E a internet não está fora dessa batalha, aliás, elas nos dias de hoje é a última esperança de ser livre, quando isso aqui cair na censura, no controle por parte dos estados e da sociedade, o homem vai ter que inventar outras maneitas de tentar frustrar os planos de controle total da sociedade tecnocrata, esta que deixou de ser exclusividade do ocidente…  Atualmente somos pessoas que comem menus ao invés das comidas, que temos orgulho de morder a isca, como um peixe no fundo do mar indo em direção ao anzol. Boa sorte, para todos nós em 2011 e para a tão surrada e velha liberdade.

Fodendo Mentes

“Toda essa liberdade me dá medo.”

“Eu estou me fodendo. E a culpa é toda sua”.

Essa duas frases foram proferidas a mim por pessoas distintas em momentos distintos.

A primeira li no MSN de uma garota que havia conhecido não fazia nem uma semana e que depois se envolveu com o Caos. Pirou, leu muita coisa e foi questão de tempo até se tornar uma de nós. Ao perceber a imensidão da coisa, soltou “Toda essa liberdade me dá medo.”.

Já a segunda ouvi pessoalmente no Bar do Lê de uma amiga minha de bons anos e que é tida por todos como “a única caótica que o é sem nunca ter lido nada sobre o assunto”. Havia lido Tarô para ela em um fim de ano e o que saiu dizia que no ano seguinte a “casa ia cair”. Passou o ano, as certezas dela ruíram, a guria não aguentou o tranco e como precisava culpar alguém, o grande eleito fui eu. E aí bêbada ela me joga na cara: “Eu estou me fodendo. E a culpa é toda sua”.

A primeira me empolgou. Era no mínimo uma bela adição para a galera. E sem contar que quando disse que ela era uma de nós e não sabia, ouvi “Não sabe a honra que é ouvir isso de você” (ah, Chorozon…).

Já a segunda me chateou. Na época eu estava me recuperando de algumas porradas da vida e ter ouvido aquilo não ajudou muito. Mesmo sabendo que a frase foi infeliz, machucou. Aquela coisa de “eu podia dormir sem essa”, saca? Na primeira vez que a água bate na bunda, a culpa é minha.

Uma frase que resume bem o Caoísmo é “Nada é verdadeiro. Tudo é permitido.”. TODO MUNDO quando conhece o Caos se empolga. TODO MUNDO acha lindo quando falamos que fodemos mentes alheias. Mas isso porque eles só lembram do “Tudo é permitido” e acham que isso é zoeira máxima. Faz parte, mas não é limitado a isso. Existe o “Nada é verdadeiro.”.

E quando falamos em foder mentes, deixo claro que muitos de nós tivemos nossas mentes fodidamente fodidas. É lindo quando falamos em foder a mente dos outros, mas quando é pra foder a SUA mente, o que vejo são chorões que nos culpam pelos seus problemas.

Sabem, eu reclamo da vida também. Nos meus dias difíceis mais que os outros. Mas eu NUNCA apontei o dedo para qualquer pessoa ou entidade e coloquei a culpa dos problemas que EU CRIEI nelas.

Crianças, Caos NÃO É CONTROLE, NÃO É SEGURANÇA. Caso queiram querem isso, virem Rosacruzes, Wiccans, Thelemitas, Católicos, mas não se envolvam no Caos. A não ser que aguentem o real “nada é verdadeiro, tudo é permitido”.

Pois bem, voltando para casa depois do bar naquele dia onde fui culpado pela problemas alheios e chateado com a bosta de frase que eu ouvi,  já era de manhã e eu estava com uma puta fome. Então acho em ponto de ônibus um saco de pão fechado. E cheio de pães. Não de simples pãezinhos franceses. Eram croassaints, pães recheados com catupiry, pães com queijo derretido em cima. Todos ainda quentinhos.  Todos meus. Então me lembro que o pão é o símbolo do alimento. Que alimento é fruto do trabalho. Terminei a noite me empanturrando de pão e rindo histericamente na rua.

Sim meus caros, eu estupro mentes e mais dia menos dia vai ser a SUA mente. Pode chorar, ralhar, me apontar o dedo e me bater, eu quero que se foda. Como dizia o Mestre Raul: “O que eu quero / Eu vou conseguir / O que eu quero/ Eu vou conseguir/ Pois quando eu quero todos querem / Quando eu quero todo mundo pede mais / E pede bis”.