Entropias grant-morrisianas #1 – Near Myths

Começo aqui uma série de posts sobre a produção do Grant Morrison. Desejo, se for possível e se a paciência deixar, analisar desde HQs mais obscuras como Bible John – A Forensic Meditation, Kid Eternity, The New Adventures of Hitler, Kill Your Boyfriend, Dan Dare e The Mystery Play, até as mais populares como SuperMan All Star, Liga da Justiça da América, The Invisibles e New X-Men.

Como não poderia ser diferente, vou começar do princípio da carreira de Morrison, que pode ser considerada como sendo as suas contribuições à revista Near Myths. Quando for preciso explicar algo além dos quadrinhos em si, como agora em relação a Near Myths e ao contexto histórico em que a obra foi produzida, farei posts específicos. Usarei de base para isso entrevistas e declarações do autor em documentários, revistas, blogs e principalmente no seu livro, Supergods.

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A Near Myths foi uma revista em quadrinhos de ficção científica e fantasia para adultos que durou apenas cinco edições, com a primeira sendo de 1978 e a última de 1980. Apesar de uma vida tão curta em relação a outras revistas, ela teve um papel relevante na indústria dos quadrinhos britânicos, seja por ter sido o primeiro emprego relativamente profissional na área que Grant Morrison teve, ou por ter dado destaque a outros artistas como Bryan Talbot e Graham Manley.

Na primeira Convenção de Quadrinhos de Glasgow, Morrison estava com sua auto-estima elevada, ele a pouco tinha se tornado punk. Ser punk, aquela idéia do “faça você mesmo”, da importância da atitude em detrimento do profissionalismo, o fazia sentir capaz de qualquer coisa, tinha revivido sua paixão pelos quadrinhos. Foi então que Morrison decidiu levar alguns de seus trabalhos, mais especificamente tiras de Gideon Stargrave, para a convenção na tentativa de arrumar algum lugar pra trabalhar. Lá ele encontrou Rob King:

“Rob King simplesmente gostou das minhas páginas e imediatamente me ofereceu £ 10 para cada uma que ele colocasse na Near Myths. Pela primeira vez na minha vida eu estava sendo levado a sério por alguém que não fosse minha mãe ou pai, ou cinco anos mais novo do que eu.” (Supergods – Capítulo 11)

Tony O’ Donnell, que também tinha acabado de ser aceito na Near Myths, disse que ao ver o trabalho de Morrison teve que admitir a Rob King a sua genialidade, principalmente após saber que Morrison tinha apenas 17 anos de idade!

A Near Myths era editada por Rob King. E Rob King era um dos donos de uma livraria especializada em ficção científica na cidade de Edinburgh. O fim dos anos 70 eram anos confusos, a utopia da geração hippie pouco se sustentava depois que a década de 60 não mudou o mundo, o que deu brecha para o punk criar novas bases comportamentais entre a juventude, deixando claro que as coisas estavam mudando como um todo. Não mudando revolucionariamente, ou para melhor como a geração anterior queria, mas estavam mudando à sua própria maneira e os quadrinhos não ficariam de fora desta mudança.

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A importância de relacionarmos a paixão de Rob King por ficção científica com sua função de editor da Near Myths é simples: sua revista em quadrinhos não era de super-heróis normais, era uma revista acima de tudo de ficção científica. O que apontava prematuramente para o gênero que com Neuromancer e Star Wars, por exemplo, dominaria todas as mídias na primeira metade dos anos 80. Além disso, o público alvo da revista eram os adultos, contrariando toda a lógica da época que focava principalmente em capturar crianças e adolescentes.

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Se a Era de Prata acenava a decadência do gênero horror nos quadrinhos –levando pra cova as histórias de detetives também-, o fim dela acenava a decadência de todo o gênero dos super-heróis. No instante em que os super-heróis foram jogados na sarjeta por “Watchmen”, a ficção científica se tornou o combustível que manteria os quadrinhos em movimento. Ficção científica e tecnologia tinham muito mais a ver com o punk e a nova geração do que heróis cuecudos salvando o mundo. Para Morrison durante essa época “quadrinhos e super-heróis eram entediantes. Eu era sci-fi punk. Foda-se”.

As contribuições de Morrison na Near Myths (e que vou analisar uma delas por semana, postando nos sábados aqui no NerDevils) foram:

#2 – Time Is A Four Lettered Word

#3/#4 – Gideon Stargrave

#5 – The Checkmate Man

Fontes:

Interview with Morrison about his early work including Near Myths:

http://homepage.ntlworld.com/fish1000/index/lostcontent/gm-afterimage6-jan88.txt

Interview with Tony O’ Donnell – comic artist (Ivy the Terrible and early collaborator with Grant Morrison): http://www.garenewing.co.uk/home/writing/tony.php

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Comentários

  • Alessio Esteves  On 31/10/2011 at 19:57

    Dessa eu não sabia…

    Curti!

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